Em entrevista exclusiva para o Portal da Aerp, Fernando Morgado, professor, consultor, palestrante e escritor, analisa os principais impactos das fake news neste momento de pandemia, as medidas criadas por estados e como podemos agir para impedir a sua circulação. Recentemente, em parceria com Luiz Ferraretto, ele lançou o e-book “Covid-19 e comunicação: um guia prático para enfrentar a crise“. Acompanhe:
Quais os principais impactos que as fake news podem causar, principalmente, neste momento de pandemia?
Fernando Morgado – A principal função da informação é orientar a tomada de decisão. Sendo assim, uma informação mentirosa pode induzir alguém a tomar uma decisão que, neste momento de pandemia, pode lhe custar a própria existência. Quando se afirma, por exemplo, que determinado medicamento cura, pessoas podem resolver tomá-lo sem prescrição médica. Quando se diz que um posto médico não funciona, pessoas podem deixar de procurá-lo e resolver se tratar sozinhas, sem o apoio de profissionais. É sabido que as chamadas fake news impedem o bom funcionamento de todas as áreas da vida humana. Agora, porém, o maior impacto reside justamente na preservação da vida. Conforme escrevi em um artigo recente, “Notícia Falsa Mata“.
Alguns estados estão criando multas com o objetivo de punir quem cria e/ou divulga fake news. Como analisa esta medida?
Fernando Morgado – Para que medidas dessa natureza funcionem plenamente, é necessária a criação de mecanismos de fiscalização transparentes, coerentes e imparciais. Somente assim será possível garantir, em larga escala, a detecção de mentiras e a devida punição aos responsáveis. Mas, para que tais mecanismos surjam, o Estado ainda precisa evoluir muito, especialmente em termos técnicos e legais. Considero que a regulação dos meios digitais ainda é muito incipiente no Brasil.
E as plataformas digitais? Qual o papel delas frente às fake news?
Fernando Morgado – As redes sociais se beneficiam diretamente das notícias falsas. É por meio delas que muitos conteúdos mentirosos circulam. Pesquisas mostram que, em geral, as fake news atraem mais cliques que informações verdadeiras. Isso gera tráfego e, por conseguinte, receita tanto para quem publicou a mentira quanto para quem a espalhou. Fake news não são algo novo. O novo é a construção de uma indústria bilionária e glamorosa em torno dela. Muitos dos empreendedores digitais que são venerados ao redor do mundo fizeram (e fazem) vista grossa às mentiras porque elas geram parte importante dos seus resultados de audiência e faturamento. Esse círculo vicioso precisa ser quebrado.
Como podemos colaborar para impedir a circulação das fake news?
Fernando Morgado – Vivemos aquilo que a OMS (Organização Mundial da Saúde) chama de infodemia, um fenômeno baseado no excesso de informações. Para sobreviver a isso, é fundamental escolher bem os meios e veículos de comunicação na hora de consumir notícias. Deve-se dar preferência àqueles mais tradicionais, com anos ou mesmo décadas de trabalho sério e profissional. Outra atitude valiosa é ler a íntegra de qualquer matéria antes de espalha-la. Muitas pessoas mal terminam de ver uma manchete e já começam a compartilhar, sem antes verificar a pertinência ou mesmo a veracidade do que está contido naquele site. São atitudes simples que, somadas a muitas outras, podem, inclusive, ajudar a salvar vidas.