As agências de checagem passaram a ter papel fundamental na vida dos veículos de comunicação. Trabalho permite conferência ágil sobre notícias e fatos questionados.
Por Germano Assad
O bom jornalismo, independente, livre de ideologia e partidarismos sempre dependeu de algumas premissas básicas. Fontes diversas e de credibilidade, informações com origem confiável, apuração e checagem dos fatos são algumas etapas do trabalho que distinguem o comunicador profissional, confiável, do amador sensacionalista.
Mas o alcance das redes sociais e a acessibilidade de dispositivos móveis equipados com câmeras e aplicativos de texto e edição a partir da virada do século transformaram qualquer pessoa em potencial propagador de notícias.
Com isso muita informação passou a circular publicamente na sua mais bruta forma e com uma velocidade que impôs aos veículos tradicionais de comunicação e ao jornalista profissional uma nova e desafiadora dinâmica de trabalho.
“As pessoas passaram a questionar a realidade baseadas na própria convicção”, reflete o diretor presidente do Sindicato dos jornalistas profissionais do Paraná, Gustavo Henrique Vidal. “O jornalismo é passível de erros, como qualquer atividade humana. É claro que também sempre existiram empresas tendenciosas, jornalistas ruins ou mesmo mal intencionados. Mas foram e são exceções, assim como em outras áreas”.
Para ele, instituições e mesmo políticos entenderam que usar erros pontuais de jornalistas e generalizar posturas tendenciosas ou antiéticas para descredibilizar a imprensa como um todo é uma forma eficiente de despistar os próprios erros, se afastando de denúncias e malfeitos expostos por profissionais da mídia.
Entre noticias falsas, sensacionalistas e click baits(títulos atrativos sem conteúdo relacionado) que passaram a circular pela internet, a imprensa reagiu, criando estruturas dedicadas exclusivamente à apuração de informações, as agências de checagem. Gustavo Vidal entende que o surgimento destas agências é um sinal positivo de que a imprensa está se adequando a nova realidade da comunicação, veloz, integrada e multiplataforma.
“Pensando o jornalismo como parte essencial da democracia, essas agências nem deveriam existir. Mas a partir do momento que a difusão de fake news e desinformação se multiplicam nas redes, e passam inclusive a ser tratadas como comunicação estratégica por instituições e políticos mal intencionados, de forma periódica, as agências de checagem acabam prestando um serviço muito importante no endosso ao trabalho do profissional de comunicação”.
No Brasil já existem várias iniciativas. Algumas atreladas a grandes veículos de comunicação, outras independentes. Todas elas compostas por profissionais da área, cada uma com sua própria estratégia de captação de recursos, sempre transparente e disponível para consulta nos portais.
Conheça as agências de checagem mais atuantes no país. E conte com elas, independente de sua inclinação político-ideológica, para separar as informações confiáveis das ‘iscas’ espalhadas pelo mar de desinformação que inundou as redes sociais:
- Lupa
Pioneira do fact-checking no Brasil, a agência Lupa foi criada por Cristina Tardáguila, e acompanha o noticiário de política, economia, cidades, cultura, educação, saúde e relações internacionais. Também integra o IFCN e é a única plataforma brasileira a fazer parte do consórcio mundial de checagem The Trust Project
- Boatos.org
Criado em 2013 pelo jornalista Edgard Matsuki, o Boatos.org destrincha as histórias que viralizam na rede. Recebeu algo pelo whats e não tem certeza se aquilo faz sentido ou tem base real? Provavelmente Matsuki e sua equipe já tem a resposta, inclusive com a origem dos boatos.
- E-farsas
Um dos mais antigos entre os portais de checagem (2002), o E-farsas desmistifica histórias mal contadas na internet e ainda entrevista especialistas para endossar as contradições do que, na maioria das vezes se trata de boato. O fundador, Gilmar Henrique Lopes chegou a ‘encaixar’ o trabalho no programa “Você é Curioso”, da Rádio Bandeirantes.
- Estadão Verifica
No formato de blog, o Estadão Verifica é editado pelos próprios repórteres do jornal. A iniciativa integra o International Fact-Checking Network (IFCN) e virou parceira formal do programa de checagem de fatos do Facebook no Brasil.
- Fato ou Fake
Lançada em 2018 pelo portal de notícias G1, o Fato ou Fake é um consórcio formado pelos veículos da Rede Globo de Comunicação (G1, O Globo, Extra, Época, Valor, CBN, GloboNews e TV Globo) com intuito de esclarecer tanto as próprias informações, quando questionadas, como conteúdos duvidoso espalhados na internet.
- Aos Fatos
Fundado pelos jornalistas Tai Nalon e Rômulo Collopy, Aos Fatos é mais focado em declarações de políticos e autoridades de expressão nacional, com base no Rio de Janeiro e em São Paulo. Verificam se alegações de autoridades sobre temas de maior importância são verdadeiras ou não, distorcidas, exageradas ou omitem informações relevantes.
- Truco
Projeto de checagem da Agência Pública, de jornalismo investigativo. O truco foca na apuração de declarações de autoridades, especialmente em época de campanha eleitoral. Mas também checa declarações feitas em eventos públicos, entrevistas e redes sociais.
- Checa Zap
O Checa Zap tem foco total no aplicativo Whatsapp, mas também atua com o Twitter e Facebook. Encabeçado por estudantes e jovens periféricos de São Paulo (Escola Énois) e do Rio de Janeiro (data_labe), promove a checagem semanal de fatos e boatos que podem impactar no processo eleitoral. Trabalham em parceria com a página Quebrando o Tabu no Facebook, Huffpost Brasil e por meio de boletins semanais na rádio CBN.
- Uol Confere
A iniciativa do UOL tem um viés menos abrangente e mais profundo. O serviço, lançado em 2007, conta com jornalistas que não apenas confirmam ou desmentem histórias e declarações, mas também contextualizam os fatos com dados, números e desdobramentos.