Gestores e executivos de RH recomendam aproximação com colaboradores, e maior disponibilidade para suporte psicológico e afazeres do dia a dia.
Por Germano Assad
Já faz mais de um ano que cidadãos brasileiros se equilibram entre medidas de restrição e relaxamento por conta da pandemia da covid-19. Os efeitos econômicos da crise sanitária colocam de um lado o trabalhador, preocupado com o emprego e a manutenção de uma qualidade de vida aceitável para a família e do outro o empresário, buscando sobreviver e honrar os compromissos diante de um cenário de absoluta imprevisibilidade.
Hermine Schreiner, diretora da RHermine, entende que “o ideal da visão estratégica das empresas era de longo prazo, bem como o planejamento de carreira das lideranças, e isso mudou radicalmente. A situação [da pandemia] é muito dinâmica, as coisas começam a normalizar e de repente, mudam para pior. E aí é preciso rever as metas e o planejamento novamente, tudo tem que ser pensado a curto prazo, e com uma frequência não usual”, pontua.
Ela destaca que ninguém viveu isso antes. E, portanto, não existem receitas pré-estabelecidas, que apontem caminhos certos ou errados. Neste cenário, Schreiner defende cautela, e afirma que a única certeza é sobre o que se espera do gestor: “cuidar bem das pessoas, mais do que nunca”.
“O líder, antes de cobrar metas de produtividade, tem que analisar o contexto do dia, do grupo de pessoas envolvidas naquele processo, e dos eventos da semana. Ponderar que o colaborador precisa entregar os mesmos resultados, cuidar do ambiente de trabalho, mas com novas preocupações. Não tem como seguir protocolos prontos, já que tudo muda muito rápido. Como visitar clientes? Equilibrar a meta da empresa com a saúde do colaborador?”, reflete.
No caso do GRPCom, o protocolo preventivo elaborado foi amplo e rigoroso. “Grupo de risco está no trabalho remoto desde o princípio, fechamos convênio com aplicativo de corridas para evitar transporte público para os que exercem funções essenciais, distribuição de kits com máscaras e álcool gel, cartazes orientativos e uma escala que separa a equipe em bolhas que só interagem entre si, permitindo mapeamento e isolamento imediato em casos de suspeita de contaminação”, relata o Head de pessoas, Ricardo Bonatto.
Apesar de todas as medidas adotadas, no sentido de contenção da disseminação e achatamento da curva epidêmica, é o pacto entre empregador e colaboradores que realmente tem feito a diferença.
“Tem que estar muito junto das pessoas, o gestor tem que estar muito próximo dos colaboradores, apesar da distância física, conversando de forma constante, incentivamos isso. Há um desgaste natural com este novo formato de trabalho e por tudo que estamos vivenciando, mas a gente tem colocado pílulas diárias, ajudado com dinâmicas, pautas de conversas para gestores terem com suas equipes para enxergar e sair um pouco do trivial do serviço, entendendo o que está acontecendo com os colaboradores no lado humano também”, recomenda o executivo.
No grupo de comunicação, foram criados dois comitês, um composto pela presidência e diretorias, com a participação do RH, que se reúne semanalmente, para tomar decisões estratégicas e definir os rumos de cada unidade. E outro que reúne, diariamente, as chefias de cada departamento com o RH para tratar de questões do dia a dia e casos específicos que exigem mais atenção por parte da empresa.
Benatto entende que a situação sem precedentes, requer medidas consideradas radicais. E faz uma recomendação para radiodifusores que vivem uma realidade distante das possibilidades de um grande grupo empresarial. “A gente entende a função essencial das rádios, mas temos que nos unir para vencer o momento sensível que estamos vivendo, então na medida em que possam privilegiar o trabalho remoto, que o façam. Não deixem de estar em contato com seus colaboradores e conversar sobre o assunto. Às vezes, por serem ambientes menores, as pessoas ficam receosas de comentar ou observar alguma coisa, por medo de colocar o emprego em risco mesmo, então que haja transparência total sobre o assunto, que as pessoas possam ter uma rede de apoio na medida do possível”.
O consultor de qualidade e CEO da Iwankio Consulting, Alexandre Iwankio, afirma que a boa liderança se mostra em circunstâncias de adversidade como esta, e por mais desafiadora que seja para equipes e empresas ‘enxutas’, é sempre viável.
“O verdadeiro líder é aquele que se preocupa com os seus liderados, com sua equipe, com os profissionais que estão atuando junto com ele no dia a dia. Isso promove uma ruptura muito grande com o que se via lá nos anos 1980, na figura do chefe e do empregado, onde havia uma realidade em que jamais se misturava pessoal com profissional, que você precisava, ao chegar na empresa, deixar todos os seus problemas do lado de fora. Hoje em dia, isso não cabe mais”, opina.
Iwankio publicou um artigo no início da semana, intitulado “Um ano de COVID-19: quais lições a pandemia trouxe para as empresas?”. Nele, elenca cinco tendências que a pandemia consolidou, como premissas do bom gestor de pessoas:
- Gestão de processos: só com uma gestão eficiente de processos é possível identificar os gargalos e desperdícios da empresa. Entre eles, movimentação excessiva de colaboradores, superprodução e desperdício de talento das pessoas. Para Alexandre, “processos integrados e eficientes proporcionam maior sinergia às organizações e, consequentemente, maior flexibilidade e agilidade frente às mudanças”;
- Home Office: reduz diversos custos de escritório, amplia as possibilidades de contar com colaboradores em qualquer lugar do planeta e possibilita ao profissional conciliar vida profissional e pessoal com mais liberdade;
- Reuniões / Visitas Presenciais: com a pandemia, aprendemos a dar o devido valor a uma reunião presencial. Se a natureza é profissional, já se compreende de antemão que o assunto é importante, a ponto de demandá-la;
- Tecnologia: não tem para onde correr. Conhecimento básico de tecnologia, e investimento em internet, equipamentos com maior capacidade de desempenho e armazenamento, bem como manutenção de hardwares é essencial para empresas de todos os portes;
- Equipe: investir em pessoas continua sendo o melhor negócio para uma empresa, já que permite ao gestor otimizar o trabalho e manter uma equipe unida e altamente capacitada, para somar esforços e agregar valor ao cliente e para a audiência.