No ano passado, houve alta de 167,85% no número de casos de violência contra jornalistas em exercício da profissão, segundo Relatório da Abert.
Por Fernanda Nardo
Aumento nos ataques a jornalistas, agressões, intimidações, ameaças e violência marcaram o ano de 2020, em um momento em que a imprensa foi considerada serviço essencial com a difícil tarefa de informar à população em meio à pandemia da Covid-19. Segundo o Relatório sobre Violações à Liberdade de Expressão/2020, divulgado, nesta terça-feira (30), pela Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão), foi registrado um aumento de 167,85% no número de casos de violência não letais a jornalistas e de 142,3% no número de vítimas, em relação ao ano de 2019.
Foram contabilizados 150 casos de violência não letal, que envolveram pelo menos 189 profissionais e veículos de comunicação. Em 2020, ocorreu também um caso de assassinato de jornalista pelo exercício da profissão, que trabalhava no Rio Grande do Sul. Ele foi morto no Paraguai por denunciar o tráfico de drogas na região e criticar a atuação de policiais.
“As hostilidades contra os profissionais da comunicação demonstram intolerância e desconhecimento do real papel da imprensa, que é o de informar a sociedade sobre assuntos de interesse público”, destacou o presidente da Abert, Flávio Lara Resende.
A principal forma de violência sofrida por jornalistas foi a ofensa, com um aumento de 637,5%, em comparação com 2019. Foram registrados 57 casos, envolvendo pelo menos 68 jornalistas. A maioria aconteceu contra os profissionais de jornal e TV com destaque para a região centro-oeste, que registrou o maior número de ocorrências. A maior parte das ofensas foi cometida por autoridades políticas e ocupantes de cargos públicos, seguidos de populares.
Também foram registradas agressões físicas como chutes, socos e empurrões durante cobertura jornalística, que somam 39 casos, envolvendo 59 vítimas. Aumento de 67,5 % em relação a 2019. Nestas situações, os mais afetados foram os homens. A região sudeste registrou o maior número de ocorrências, causadas, em especial, por agentes de segurança e populares. A Abert ressalta que o número nem sempre representa a realidade, já que muitos casos não são relatados.
Houve também crescimento no número de casos de intimidação, ameaça e de roubos e furtos. Já em relação aos ataques virtuais houve queda de 9% em relação ao ano anterior, o levantamento aponta que a imprensa sofreu 7.945 ataques virtuais por dia, ou quase 6 agressões por minuto.
A representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, ressaltou que os dados são preocupantes e reafirmou a importância do jornalismo diante das grandes transformações atuais. “O bom jornalismo fornece aos cidadãos todas as informações que eles precisam para tomar decisões fundamentadas sobre suas vidas e suas sociedades”.
Marlova destacou o momento em que estamos vivendo e o papel da imprensa durante a pandemia. “A mídia tem ajudado a combater o que a UNESCO chama de “desinfodemia”, uma pandemia paralela de desinformação que estamos vivenciando em todo mundo. As chamadas fake news”, afirmou.
O relatório apontou, também, que as decisões judiciais contam com uma redução de 20% em relação ao ano anterior. Os pedidos de indenização por danos morais e a retirada do ar de informações e matérias jornalísticas representaram a maioria das sentenças.
BRASIL – Durante a apresentação do relatório foi destacado que o Brasil segue na lista como uma das nações perigosas para o exercício do jornalismo. De acordo com a ONG Repórteres sem Fronteiras (RSF), entre 180 países avaliados, o Brasil figura na posição 107 no ranking de liberdade de imprensa, a pior colocação desde o início da contagem, em 2002.