Faturamento para emissoras e emoção para os ouvintes. Futebol no rádio continua sendo uma tradição democrática que segue se reinventando nos tempos atuais.
Por Fernanda Nardo.
Futebol é paixão nacional e no rádio continua sendo um clássico. Ele traz publicidade e patrocínio para as emissoras, gera emoção, apreensão, mexe com a imaginação dos ouvintes e leva aquele lance mais rápido do que qualquer outro meio. Quer acompanhar o dinamismo do campo? Liga o rádio que não tem erro. Não é à toa que os apaixonados por futebol não desgrudam do radinho na hora das partidas.
No entanto, ao longo dos anos muita coisa mudou na transmissão. As rádios inovaram e hoje também utilizam a convergência de mídias para proporcionar aos ouvintes uma experiência integrada e completa, além do humor, música e outros recursos. Mas atualmente, qual a importância da transmissão do futebol para a rádio?
De acordo com o diretor da Transamérica Curitiba, Rogério Afonso, o futebol é o principal produto da emissora, que investiu muito para cobrir, principalmente, os jogos dos times paranaenses e continuar fidelizando os ouvintes. A emissora, que lançou o futebol em 2001, segue inovando.
“O futebol gera um bom faturamento e audiência. A emissora tem muita força no futebol, além de uma transmissão de qualidade, alegre, descontraída e irreverente, isso faz com que as pessoas se prendam e fiquem muito ligadas”, diz.
Afonso destaca os diferenciais da emissora nas transmissões de futebol. Ele explica que um dos pontos interessantes é que eles não valorizam o gol do time adversário, só narram o gol dos três times da capital, criando uma espécie de compromisso com esses times e suas torcidas.
“Também temos trilhas musicais, vinhetas, informação de qualidade, brincadeiras, sorteios, o humor do ET que é um fenômeno. Com esse papo mais natural, por exemplo, temos a participação de mais mulheres acompanhando o jogo. Unimos a equipe jovem com pessoas mais experientes para abraçar diversos segmentos”.
O diretor também fala sobre a importância de estar presente durante as transmissões de futebol em diferentes plataformas, marcando presença pelo site, aplicativo, redes sociais e no canal da net.
“Fica tudo gravado e o torcedor ouve a hora que ele quiser. No final do dia, dependendo do jogo, o acesso chega a alcançar 100 mil visualizações. É uma forma de estarmos com os ouvintes onde eles estiverem”, afirma.
O futebol gera renda e patrocínios anuais para as rádios. Mesmo com o custo alto, grandes equipes e viagens, se reverte em uma gama de clientes fiéis que se tornam patrocinadores da emissora.
“O rádio sempre foi sazonal, dependendo das datas comemorativas para conseguir maior publicidade. Com o futebol, você tem clientes que entram em janeiro e ficam até dezembro, com um alto valor agregado”, diz o diretor.
Democratização do futebol
Temos o futebol na televisão aberta, mas são poucos os jogos transmitidos. Quando falamos do futebol regional, existe menor acesso ainda. Também contamos hoje com a transmissão via pay per view, que são sistemas mais caros. Por outro lado, o rádio leva informação e transmissão do futebol sem cobrar nada do ouvinte.
“Ele tem um cunho social muito importante para levar a informação ao torcedor. É a forma em que os torcedores menos favorecidos podem ouvir seu time do coração. A transmissão de futebol também é uma prestação de serviço, porque você fala do entorno, de trânsito, e faz um serviço à sociedade. Agora na pandemia, por exemplo, a forma dos torcedores acompanharem os jogos é ouvindo o rádio”, diz o coordenador de esportes da Rádio Banda B, Greyson Assunção.
A Banda B está presente em todos os jogos dos times da capital e tem um estilo clássico de transmiti-los, e para o coordenador esse é o diferencial da emissora. “Aquela transmissão clássica mais com modernidade e muita qualidade, buscando levar informação jornalística, para proporcionar uma experiência única com o futebol, que é uma tradição no rádio”, explica.
Segundo o coordenador, os repórteres da rádio são multimídias, fazem a cobertura no campo para o rádio e também nas plataformas digitais. “É o presente, sem essa atuação em diversas plataformas ninguém sobrevive. O torcedor escuta o rádio e tem todos os bastidores do jogo pelas redes sociais”.
“O futebol gera anunciantes, o que faz o rádio esportivo continuar muito forte ainda. Esperamos que siga dessa maneira por muitos anos”, diz Assunção.
Futebol no rádio une gerações
A transmissão de futebol no rádio tem alguns pontos importantes que se destacam frente à televisão. No rádio, por exemplo, o ouvinte consegue acompanhar os bastidores antes e depois do jogo, o que não acontece na televisão, que é muito cara nesse aspecto. Além disso, na pandemia alguns jogos, são transmitidos somente pelo rádio.
“O rádio é dinâmico, e quando sai o gol, ele transmite antes da televisão, porque não tem tanto “delay”, explica o diretor da Transamérica.
Além disso, o rádio promove essa proximidade e interação com os ouvintes, é um meio irreverente e inclusivo. “O rádio é um companheiro muito próximo, passa as informações com mais precisão, credibilidade e troca informações com os ouvintes. No rádio, o narrador cria um cenário, aguça a imaginação do ouvinte como em nenhum outro meio”, diz Afonso.
Rivalidade sobre as ondas do rádio
O torcedor do Athletico Paranaense, Heckley Vaz Pinto, de 31 anos, aprendeu a gostar de futebol com sua tia-avó, Mari Pedroso, de 83 anos, que ainda acompanha seu time do coração. Ele conta que o rádio intensificou sua paixão pelo futebol.
“Nos anos de 1990, uma das únicas formas de acompanhar os jogos dos clubes paranaenses era pelo rádio ou indo até o campo. Sempre gostei do rádio, ele traz essa imprevisibilidade, trabalha com a imaginação, isso sempre me trouxe muito mais emoção na hora de acompanhar os jogos”, conta.
O ouvinte destaca como o rádio também era utilizado como um instrumento de provocação e brincadeiras com os vizinhos, que torciam para o time adversário.
“Nos dias de jogos do Coritiba, nosso vizinho nos provocava aumentando o volume do rádio a cada gol do seu time. Já nos dias de reversa alviverde, a cada gol que o Coritiba sofria o volume do rádio ficava mais baixo. Como provocação, minha tia perguntava, se eles ouviam jogo no mudo. Era muito divertido toda aquela brincadeira”, lembra o torcedor que ainda diz acompanhar os jogos pelo rádio.
“O excesso de publicidade pra mim é um aspecto negativo hoje em dia, mas entendo que é uma forma de obter renda para o rádio. O lado bom é o preparo dos locutores, e a facilidade de interação com eles. Hoje, o ouvinte se sente parte de uma equipe de transmissão, sente-se com o mesmo poder do comentarista, pela rapidez de conseguir levantar suas questões na hora do jogo, com agilidade, por meio das mensagens”, afirma o torcedor rubro-negro.