Pelo menos 230 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de ataque no ano passado. Um aumento de 21,69% em relação a 2020, segundo relatório da ABERT.
Os dados do Relatório ABERT sobre Violações à Liberdade de Expressão, apresentado pelo presidente da ABERT, Flávio Lara Resende, nesta terça-feira (22), mostra que 230 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de ataque no ano passado.O que equivale a um aumento de 21,69% em relação a 2020. Ao todo, foram registrados 145 casos de violência não letal em 2021. Nesta primeira década de monitoramento, apenas em 2019 e 2021 a imprensa brasileira não foi atingida por violência letal.
“A violência sistemática contra o jornalismo crítico e independente tenta minar, sem sucesso, a credibilidade da imprensa profissional, barreira eficiente contra a propagação de notícias falsas e parte fundamental para as democracias. A ABERT lembra que a liberdade de imprensa não aceita retrocessos”, afirmou Lara Resende.
Como em 2020, as ofensas tiveram o maior registro de ocorrências em 2021. Foram 53 relatos, envolvendo pelo menos 89 profissionais e veículos de comunicação, um aumento de 30,88%. Em quase sua totalidade (92,45%), os ataques partiram de políticos ou ocupantes de cargos públicos. O número nem sempre representa a realidade, já que muitos casos não são relatados.
Em seguida, estão as agressões, com 34 casos, envolvendo pelo menos 61 profissionais. Os homens representaram a maioria das vítimas (80,33%). Em 62,22% dos casos, equipes de TV foram as mais atingidas. As intimidações também tiveram destaque, com 26 casos registrados de Norte a Sul do país, o que equivale a um aumento de 4% em relação a 2020. O número de vítimas aumentou consideravelmente: pelo menos 43 profissionais tiveram o trabalho interrompido, foram recebidos aos gritos ou mesmo impedidos de continuar cumprindo o dever de informar. O número é 43,33% superior ao contabilizado no relatório passado. Mais de 58% dos profissionais atacados eram homens.
ATAQUES VIRTUAIS
Os ataques virtuais estão em capítulo à parte. Apesar da redução de 54% em relação a 2020, as postagens em redes sociais como o Twitter, Facebook e Instagram, com palavras de baixo calão, expressões depreciativas e pejorativas dirigidas à imprensa profissional e aos jornalistas, estiveram em 1,46 milhão de posts, o que representa cerca de 4.000 ataques virtuais por dia, ou quase três agressões por minuto. É o que revela o estudo encomendado pela ABERT à BITES, empresa de análise de dados para decisões estratégicas para negócios.
O BRASIL NO MUNDO
Pela primeira vez em 20 anos, o Brasil passou, em 2021, para a chamada “zona vermelha” do Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa da organização internacional Repórteres sem Fronteiras (RSF). De acordo com levantamento da RSF, o país teve uma queda de quatro posições em relação ao ano anterior, passando da 107ª colocação para a 111ª.
Desde 2002, quando a organização começou a publicar a pesquisa sobre as condições para o exercício do jornalismo em 180 países, esta é a pior colocação do Brasil na lista, que aparece ao lado de Bolívia, Nicarágua, Rússia, Filipinas, Índia e Turquia, nações onde a situação do trabalho da imprensa é considerada “difícil”. Já a Noruega, pelo quinto ano seguido, ocupa o primeiro lugar. Na sequência estão Finlândia, Suécia e Dinamarca. Os países com a pior classificação são Eritreia (180ª), Coreia do Norte (179ª), Turcomenistão (178ª) e China (177ª).
O Relatório da ABERT pode ser acessado