
Você já parou para pensar que o clima da Antártida pode influenciar diretamente as tempestades e enchentes aqui no Brasil? Pois é, uma expedição científica percorreu o continente gelado para entender melhor essa relação – e os resultados podem revolucionar a previsão do tempo na América do Sul.
Reportagem e produção Alice Lima. Supervisão: Maíra Gioia. Uma parceria AERP e Agência Escola UFPR.
E se eu te falasse que uma pesquisa realizada na Antártida vai ajudar na previsão de eventos climáticos extremos na América do Sul? É isso mesmo que você ouviu, mas calma que a gente te explica tudo. De novembro de 2024 a janeiro de 2025, uma equipe de 61 cientistas de sete países deu a volta no continente Antártico para pesquisar o polo sul e coletar dados valiosos para a ciência.
A professora e doutora em ciências da UFPR, Camila Carpenedo, estava entre os pesquisadores que embarcaram no navio quebra-gelo russo. Camila é coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Variabilidade e Mudanças Climáticas (Nuvem) e do projeto Polar Connections do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Durante a expedição, o objetivo da cientista era lançar radiossondas, que são sensores conectados a balões meteorológicos para analisar as características atmosféricas da região, como temperatura do ar, umidade, velocidade do vento e pressão atmosférica. Esses dados foram então usados pela equipe de meteorologia para analisar a relação entre o gelo marinho e ciclones extratropicais, que são fenômenos climáticos extremos que atingem a América do Sul. Camila Carpenedo fala sobre os primeiros resultados obtidos através das radiossondas.
SONORA
Mesmo com a explicação da cientista você pode estar pensando: o que o clima da Antártida tem a ver com a América do Sul? A resposta não é tão simples e por isso a ciência trabalha para encontrá-la. Camila explica que o gelo marinho e a passagem de frentes frias com origem antártica dão origem aos ciclones extratropicais, associados a chuvas intensas, ventos intensos, granizo e eventos de ressaca do mar.
Através dos novos dados levantados sobre a região ainda pouco estudada, a equipe de meteorologia irá desenvolver ferramentas de previsão de tempo mais assertivas que utilizam, inclusive, o gelo marinho como componente importante para a previsão do tempo do nosso continente. Como consequência de previsões do tempo mais assertivas e o maior conhecimento das frentes frias que atingem o hemisfério sul, a cientista explica que será possível prever também fenômenos climáticos extremos, como tempestades que causam enchentes no Brasil. Assim, os resultados poderão contribuir para a redução de perdas humanas, sociais, ambientais e econômicas.