A História da Civilização não se divide necessariamente pelo tempo cronológico. Episódios de magnitude global que tiveram grandes impactos políticos e econômicos marcaram o nascimento de novas eras, separando nosso processo evolutivo entre antes e depois de determinados fatos históricos. Mas, inegavelmente, a COVID-19 será lembrada como o grande propulsor do surgimento de uma nova sociedade transformada pela conectividade e reinventada pelo uso intenso de ferramentas tecnológicas.
A historiadora e antropóloga Lilian Schwarcz já deu sua sentença: o novo coronavírus marca o início do Século XXI, duas décadas depois da virada cronológica do século. “Nesta nova era, a civilização será, forçadamente, cada vez mais virtual, mais digital. É um caminho sem volta”.
De acordo com previsões do Imperial College Britânico, o novo coronavírus terá picos e vales de contaminação pelos próximos dois anos, o que implicará em lockdowns periódicos. Ou seja, seguiremos vivenciando, de tempos em tempos, períodos de isolamento como o que estamos experimentando agora.
Aprendizado contínuo
O desenvolvimento de novas habilidades profissionais também será uma demanda crescente no futuro e a educação remota ganhará espaço para viabilizar um aprendizado contínuo fora das salas de aula. Para Venâncio Velloso, cofundador da WebPesados e VTEX, em um novo mundo corporativo sustentando por transformações exponenciais constantes e reforçado pelas novas tecnologias, precisaremos aprender novas profissões por toda vida. “As empresas, da mesma forma, irão desenhar planejamentos cada vez mais de curto prazo, sendo obrigadas a criar recorrentemente MVPs (Mínimos Produtos Viáveis) que possam ser rapidamente testados, revistos e aprovados. O ´time to market´ será determinante e a velocidade cada vez mais relevante”.
A gestão nas empresas vai mudar. Aldo Macri, coordenador do Comitê de Inovação do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (IBEF-PR) lembra que a cultura Agile, que consiste em conferir maior responsabilidade no trabalho em equipe, de uma forma que todos têm conhecimento dos desempenhos individuais e cobram resultados um do outro, sem hierarquias é a tendência dos novos tempos. “Essa estrutura vem da cultura das startups. Pessoas com conhecimentos distintos, mas olhando para um objetivo em comum se complementam”.
Outro ponto importante é a confiança. Aldo ressalta que o consumidor tem todas as informações da empresa e está mais atendo nesses novos tempos. “A empresa que fizer uma oferta de um produto ou serviço fake vai ser descoberta pelo cliente. A questão do custo versus beneficio está muito mais latente e isso é muito importante, pois está ligada a lealdade. Quem não respeitar seu consumidor vai perder.
Venâncio Veloso acredita que acompanhar tantas rápidas revoluções impulsionadas pela COVID-19 irá exigir também uma concomitante revisão de aspectos legais. “Será preciso flexibilizar as regras em vigor que deixarão de fazer sentido na nova civilização, como já aconteceu com a recente aprovação da telemedicina no Brasil”.
Não há receitas prontas para a nova vida depois da pandemia, explica Venâncio. “Mas é certo que as empresas precisarão reforçar investimentos em pesquisa e desenvolvimento para desenhar soluções baseadas nos novos comportamentos dos consumidores”.