
Com uma programação voltada a tendências e estratégias para o futuro do rádio e da televisão, o Aerp Day 2024 reuniu especialistas nacionais e internacionais em um ciclo de palestras que destacou as transformações tecnológicas e os novos caminhos para a monetização no setor. Após as falas institucionais de abertura, os conteúdos apresentados tomaram conta da atenção dos radiodifusores presentes no evento e daqueles que acompanharam a transmissão ao vivo pelo canal da Aerp no YouTube. Entre os temas abordados estiveram a integração entre rádio e streaming, as oportunidades comerciais da TV 3.0, os desafios do mercado digital e o uso da inteligência artificial para ampliar resultados.
A primeira palestra teve como tema “Oportunidades Comerciais para o Meio Rádio”, com participação de Filipe Santos, cofundador da Watch Labs e CTO da WatchTV e WatchLabs, e de Carlos Motter, COO da Watch Brasil e CEO da WatchLabs. Os executivos apresentaram a trajetória da Watch, empresa de tecnologia brasileira, e seu novo produto, o Awdio, uma plataforma que adapta ao rádio soluções de streaming e monetização originalmente desenvolvidas para o vídeo.
Segundo eles, a proposta da Awdio é integrar tecnologia ao rádio, oferecendo dados em tempo real sobre audiência, personalização de anúncios e novas formas de receita. Através da plataforma é possível substituir propagandas genéricas por inserções programáticas segmentadas, aumentando o valor da publicidade. Ela também oferece funcionalidades como interatividade com ouvintes, gravação e disponibilização de programas como VOD, e ampla medição de desempenho. Tudo é feito com tecnologia própria, desenvolvida no Brasil.

Um dos temas mais importantes para a radiodifusão brasileira é a Tv 3.0 e as oportunidades comerciais que a nova tecnologia proporcionará para as emissoras. Esta foi a temática abordada pelo Diretor de Arquitetura, Parcerias, Estratégia de Dados e IA da Globo, Carlos Octavio Queiroz. Durante sua apresentação ele abordou a TV 3.0 como a maior revolução da radiodifusão no Brasil, destacando sua integração entre sinal de antena e internet, com foco em experiência do usuário e novas oportunidades de negócios.
Queiroz ressaltou o potencial da TV conectada, já presente em 72% dos lares brasileiros, e como isso possibilita a segmentação geográfica e comportamental da publicidade, o que atrai desde grandes marcas até pequenos e médios anunciantes. A tecnologia permitirá medição precisa da audiência em tempo real, com dados logados que ampliam o conhecimento sobre o público. Foram apresentados exemplos de interatividade e compras diretas pela TV, além da possibilidade de consumo por dispositivos móveis. Ao final, ele reforçou a necessidade de preservar a gratuidade, o alcance e a qualidade da televisão aberta.

Complementando essa visão, Mark Aitken, vice-presidente sênior da Sinclair Broadcast Group, trouxe a perspectiva norte-americana sobre a TV 3.0. Ele abordou a importância da televisão do futuro como plataforma de inovação, com destaque para seu potencial de integração com a internet. Enfatizou que a TV 3.0 viabiliza novas fontes de receita e possibilidades como publicidade segmentada e interatividade. Ressaltou o uso do protocolo IP e a convergência com redes 5G e futuras. Destacou ainda a necessidade de participação ativa do Brasil nos fóruns de padronização. Por fim, reforçou o papel da televisão no relacionamento com as comunidades, especialmente frente ao declínio de outros meios.
Com olhar voltado a meio rádio, Leonard Wheeler, Presidente da Wheeler Media Solutions e Membro do Comitê Executivo do Conselho de Administração da NAB e Joseph D’Angelo, Vice-presidente sênior de Rádio & Digital Áudio da Xperi, Inc. falaram sobre o Futuro do Rádio no Mercado Publicitário Multiplataforma. D’Angelo iniciou abordando sobre o futuro do rádio em um cenário de transformação digital e convergência multiplataforma. Ele destacou como a audiência tem migrado para ambientes conectados, especialmente em carros com sistemas inteligentes, onde soluções permitem medir com precisão o consumo de conteúdo em tempo real, tecnologia que já é realidade nos Estados Unidos. Na apresentação, ele também ressaltou a relevância de cruzar dados de escuta com pesquisas de percepção musical para decisões mais assertivas de programação.

Paralelamente, enfatizou-se o desafio imposto pelas big techs — Google, Meta, Spotify, Amazon — que concentram a maior parte da receita digital. Apesar disso, ele defendeu que rádios locais podem se destacar por meio da conexão emocional com o público, da atuação consultiva junto a anunciantes e da ampliação de serviços digitais. A palestra concluiu reforçando a importância de estratégias sólidas para o uso de IA, o fortalecimento de políticas públicas e o papel do rádio como fonte confiável de informação.

Leonard Wheeler também compartilhou como sua emissora de rádio está utilizando a tecnologia presente nos carros conectados para obter dados em tempo real sobre o comportamento da audiência, com uma amostragem muito superior à oferecida pelos institutos tradicionais. O executivo também refletiu sobre o cenário atual da radiodifusão, alertando para o avanço das big techs, que dominam a receita de publicidade digital. Apesar da concorrência, ele enfatizou que as plataformas também oferecem oportunidades de engajamento, monetização e análise – especialmente se aliadas a ferramentas de inteligência artificial. Ele reforçou a necessidade de usar essas ferramentas com estratégia e propósito, destacando a importância de investir tempo na formulação de prompts de qualidade. Outro ponto forte foi a defesa do papel das emissoras locais na criação de conexões emocionais com a audiência – algo que algoritmos não conseguem replicar – e a valorização do relacionamento humano, tanto com o público quanto com os anunciantes.
Encerrando o ciclo de apresentações, Wilson Wellisch, secretário de Comunicação Social Eletrônica do Ministério das Comunicações (MCom), apresentou as novidades do governo federal para o setor. Ele abordou os avanços técnicos da TV 3.0 no Brasil — como imagem em 4K e 8K, som imersivo e interatividade — e as transformações no modelo de negócios da radiodifusão.

Segundo Wellisch, a publicidade será mais segmentada e eficiente, com a possibilidade de inserções diferentes entre transmissões ao vivo e conteúdos sob demanda, o que amplia significativamente o inventário publicitário. Ele também destacou o padrão ATSC 3.0, adotado pelo Brasil para a nova televisão digital, reconhecido mundialmente por sua robustez técnica e potencial de mercado. Por fim, defendeu a expansão do sinal da TV 3.0 para dispositivos móveis, especialmente smartphones, utilizando o potencial do 5G e de outras soluções híbridas.
Assista as palestras na íntegra: