Por Marinna Protasiewytch
Na última terça-feira (18), uma coalizão formada por 27 entidades representativas do setor da comunicação social do país enviou para a Câmara dos Deputados um manifesto. No texto são abordadas principalmente causas envolvendo a publicidade na internet e a replicação de conteúdo jornalístico.
Em entrevista exclusiva à Aerp, Marcelo Rech, presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ) explicou que um dos principais objetivos da coalizão é o combate as fake news. “É um movimento inédito no Brasil, e o tema das fake news atinge o coração da sociedade, no sentido de produzir visões distorcidas da realidade e com isso contamina todo o processo de relações, de eleições, em razão desta distorção deliberada” afirma o presidente da ANJ.
Outro ponto encaminhado à câmara se refere à publicidade digital. Segundo Dudu Godoy, representante de entidades ligadas à propaganda e marketing (Sinapro, Senpro, CENP e ABMN) são necessárias mudanças na forma de exposição de avisos de anúncios patrocinados na internet e ainda a regulamentação dos contratos.
“O que financia os principais serviços na internet é a publicidade direcionada com base nos dados dos usuários e engajamento. As compras de publicidade e impulsionamento para veiculação no Brasil são feitos muitas vezes fora do país em moeda estrangeira, sem ser alcançado pelo fisco e pela regulamentação brasileira” adverte Godoy. A solução seria a “aplicação de leis que já existem aqui no Brasil para todos e identificar os patrocinadores, pois a transparência do que é notícia, do que é conteúdo pago e do que é publicidade precisa estar clara, principalmente de propaganda de cunho político partidário” complementa Dudu Godoy.
A expectativa é de que o documento seja apreciado pela câmara e faça parte da discussão da PL das Fake News que já está em trâmite, mas segundo a coalizão não contém pontos considerados importantes pelos veículos de comunicação social do país.
Copywrite e valorização profissional
Para as entidades, será necessária a aplicação de formas de identificação e pagamento pelo conteúdo compartilhado por plataformas online e que os utilizam como forma de gerar receita com publicidade e tráfego. “Em abril do ano passado uma diretriz de copywrite foi determinada para todos os países da união européia, isso quer dizer que agora eles estão criando legislações para a remuneração dos produtores de informação pelas plataformas digitais” conta Marcelo Rech, que afirma que este sistema precisa ser implantado também no Brasil, uma vez que sites de buscas, por exemplo, exibem prévia de conteúdos gerados sem pagar por isso. A expectativa é de que esta mudança gere uma maior valorização dos profissionais que produzem conteúdo para a internet.
No documento, a coalização defende que todo material utilizado pelos provedores de aplicação de internet seja remunerado às empresas e aos profissionais, se por eles autorizado, ressalvados o compartilhamento de links diretamente pelos usuários.
Transparência
No texto enviado à câmara dos deputados há ainda a solicitação de relatórios de métricas e medições na internet, que já existem hoje, mas que são feitos pelas próprias empresas digitais. Para Marcelo Rech, não há transparência no processo atual. “As métricas tem que ser feitas por terceiros, caso contrário não há credibilidade no processo. Organismos de certificação devem informar de uma maneira transparente, como acontece com os veículos tradicionais, como é caso do jornal, que possui o Instituto Verificador de Circulação”.
Para o presidente da Aerp, Michel Micheleto, a iniciativa que tem a Abert como representante das associações de radiodifusores é de extrema importância. “Este movimento produz uma contra partida muito pertinente para o combate à desinformação, principalmente neste momento em que estamos próximos às eleições e o número de fake news aumenta exponencialmente” afirma.