Abrir espaço para acolher a dor, falar sobre a perda e criar programas de apoio aos colaboradores estão entre as dicas dos profissionais.
Por Fernanda Nardo
Vivemos um período difícil como humanidade, de medo e incerteza em relação ao futuro. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em todo o mundo, o número de novos casos de COVID-19 por semana, quase dobrou nos últimos dois meses. No Brasil, chegamos a 14.369.423 casos confirmados com 391.936 mortes. Diante disso, temos que lidar com a perda, o sofrimento e o luto.
Segundo a filósofa e psicanalista, Viviane Mosé, construímos uma bolha civilizatória, que de certa forma, nega a essência do ciclo da vida no qual a dor e morte sempre estarão presentes. A pandemia nos forçou a encarar de frente essas questões que fazem parte da natureza. A partir disso, buscamos maneiras de passar por esses momentos difíceis da melhor forma possível, seja em casa ou no ambiente de trabalho.
Para a psicóloga e gestora de Recursos Humanos, Maria Ester Falaschi, o que podemos fazer para preservar minimamente nossa saúde mental, neste contexto, é cultivar o que nos faz bem.
“Estar em contato com as pessoas que amamos, mesmo que virtualmente, cultivarmos os antigos prazeres domésticos, assim como descobrir outros novos e, acima de tudo, não nos descuidarmos e estimular o nosso entorno a persistir nos protocolos de prevenção do contágio”, diz.
Comitê de crise no ambiente organizacional
De acordo com Ester, nos espaços corporativos é recomendado formar um comitê de crise, que deve ser composto por gestores ou outros profissionais com nível estratégico, para estabelecer uma política de manejo da prevenção e, também, encaminhamentos, como casos suspeitos, confirmados e mortes.
“Pensando na morte, seja de colegas de trabalho, de parentes e amigos, é preciso que se fale da perda. O medo e a dor devem ser acolhidos, por quem sofre e por quem o cerca. Nos espaços corporativos, o comitê de crise deve também contemplar esta necessidade e abrir este espaço”, afirma.
Segundo a psicóloga, o comitê deve acompanhar os avanços científicos sobre o assunto, a gestão de saúde do estado, assim como medidas provisórias e decretos. “Internamente, deve acompanhar os índices de casos suspeitos, confirmados, internações e mortes de funcionários e familiares. Conforme a criticidade, deve elaborar programas de apoio aos colaboradores”, destaca.
Transformando a dor
Para o coordenador do Centro de Estudos Budistas Bodisatva Sukhavati e instrutor de meditação, Bruno Davanzo, o medo da morte e o sentimento de impotência diante da perda é natural. No entanto, é preciso ter sensibilidade para lidar com esse momento, acolher, e compreender que não temos controle sobre esse processo, afinal, a morte é algo que está além de nós.
“O que exatamente morre? No budismo, é como se trocássemos de roupa, o corpo morre, mas a mente continua. Estudar sobre a morte para saber um pouco mais o que acontece neste processo, pode nos trazer mais tranquilidade, nos ajudar a transformar a dor e ter uma vida com mais significado”, diz.
Para ele, é possível ajudar quem está no momento da morte. “Mesmo com sofrimento devemos liberar o outro para seguir seu caminho e tentar levar tranquilidade a quem está partindo. Quando a dor vier, orar e lembrar-se de coisas positivas ajuda a enviar luz a quem partiu, e nos traz conforto”, explica.