Há uma inércia das empresas em relação a forma como elas fazem as coisas. Isso é natural. Mudar atitudes envolve mudar valores, crenças profundas. O problema é que muitas vezes elas são limitantes e são elas que levam aos comportamentos. Uma empresa que tem um tipo de comportamento ao longo de anos ou décadas e se vê diante de uma necessidade de mudança urgente vai ter uma resistência natural porque precisa remodelar a forma de ver o mundo. A pandemia apresentou este novo cenário em um grau raramente vivenciado pela humanidade.
“Ela trouxe a necessidade de viver a mudança na prática de forma dramática. Por exemplo, se antes as empresas eram conscientes de que precisam se digitalizar e tinham isso no horizonte, agora não adianta mais ter esse objetivo, a questão é ser digital. A adaptabilidade não é mais algo importante para se incorporar, é algo urgente para se colocar em prática. Infelizmente, muitas empresas não entenderam ou não sabem como fazer isso”, justifica Paulo Monteiro, consultor e coach em desenvolvimento organizacional e humano, professor de MBA na FGV e autor de livros, entre eles A Reinvenção da Empresa: Projeto Ômega.
Mas como sair de um ponto A para um ponto B? Para que as mudanças necessárias sejam mais assertivas as empresas devem se abrir para a nova realidade mantendo a essência. “É dessa forma que a natureza funciona, ela mantém o essencial e se reinventa e esse é um equilíbrio dinâmico, que pote até parecer um paradoxo, mas nós seres humanos também vivemos isso. Ao longo dos anos nos adaptamos a novos estímulos e desafios o tempo todo, mas mantemos a nossa identidade e nossa essência. Somos os mesmos, mas sempre diferentes. As empresas longevas fazem isso também, elas entendem o equilíbrio dinâmico e mantêm o núcleo, propósito, valores, identidade, mas conseguem se reinventar, modificando métodos, processos e até mesmo produtos, mas sempre mantendo o grande núcleo. Elas são dinâmicas, mas consistentes na identidade, esta é a melhor definição de adaptabilidade”, elucida Paulo.
O professor da FGV destaca que existe uma premissa que vem antes das etapas do processo de mudança. “Ela deve vir de todos do sistema e não ser imposta “top down”. Quando ela é imposta de cima para baixo, apenas de forma informativa, ela não engaja os colaboradores, eles não se sentirão parte da mudança. Desta forma, terão que “entubá-la”, aceitarão, mas não irão incorporar nos seus corações e em suas vontades. Isso será limitante porque o compromisso com a mudança será limitado. Certamente, alguns reclamarão, serão mais vítimas do que protagonistas. Inclusive, esta é uma mudança de paradigma das empresas brasileiras. O movimento precisa ser ecossistêmico, envolvendo a todos desde o início”.
Mesmo a mudança sendo fenomenológica, emergencial, como a vivida atualmente, ela precisa ter uma estrutura mínima. Quando isto não ocorre a chance de se perder na mudança é maior, gerando mais estresse e angústia porque a mudança não avança. Para esclarecer e orientar sobre este processo, Paulo Monteiro cita John Kotter, em seu livro Liderando a Mudança, destacando quatro passos que podem ser seguidos por qualquer organização que precisa mudar:
- Ter a clareza de qual é a necessidade da mudança, ou seja, qual é a situação A que ficou obsoleta.
- Ter uma equipe que coordene esta jornada, principalmente se ela for de maior alcance. Grupos de trabalho ecossistêmicos devem ser formados para se definir a visão do que irá surgir, o rosto da situação B.
- Uma vez definido o objetivo, se prototipa este novo caminho, testando este protótipo como um piloto que será corrigido e ajustado. De forma ágil.
- Consolidar a situação B como a nova realidade estabelecida, transformando-a através da comunicação institucional para os clientes e colaboradores.