Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná

Como superar a “fadiga da quarentena”?

Por Comunicação. Publicado em 03/07/2020 às 09:40.

Nos Estados Unidos e em países da Europa, atingidos pela pandemia antes do Brasil, o termo “fadiga da quarentena” já é conhecido. A expressão foi trazida à tona pelo primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson. Assessorado pela sua equipe de Insights Comportamentais, ele disse que medidas mais drásticas de isolamento só seriam adotadas no país quando a epidemia estivesse próxima de atingir um pico, para se evitar uma “fadiga comportamental” no engajamento dos britânicos ao esforço de contenção viral.

Especialistas consideram este comportamento natural. Em uma primeira fase, o cérebro está superalerta para absorver todas as informações possíveis e tomar as precauções necessárias para reagir à ameaça. Em seguida, há um momento de profunda ansiedade e estresse quanto às adaptações necessárias e às incertezas do futuro.

A psicoterapeuta Pollyanna Esteves explica que o ser humano tem uma adaptação muito rápida, mas logo relaxa. “A pessoa no início se assusta, mas quando percebe que não tem ninguém da família contaminado, começa a achar que não precisa de tantos cuidados e não vê mais sentido em seguir as regras”.

Outro ponto que explica o relaxamento nas regras é a tendência psicológica do ser humano em buscar o que dá prazer e evita o desprazer, como explica a psicóloga e psicanalista Luzia Carmem de Oliveira, membro da comissão de Psicologia Clínica do CRP- PR (Conselho Regional de Psicologia do Paraná). “Muitas situações da realidade impõe um desconforto e com o passar do tempo e a vida não voltando ao seu normal vai gerando cansaço e isso faz com que as pessoas acabem furando a quarentena ou não conseguindo sustenta-la. Não é algo, muitas vezes, percebido pela pessoa. Quem está ao lado é que percebe que ela não está conseguindo lidar com a situação”.

A falta de clareza nas informações vindas das autoridades públicas aumenta a “fadiga da quarentena”. Segundo Luzia, a ausência de orientações claras gera um cansaço muito maior. “As pessoas deixam de respeitar a quarentena e não levam a sério. A população fica insegura e cada um decide por si mesmo”.

As pessoas têm necessidade de liderança, comenta Pollyanna. “Infelizmente, a maioria das pessoas só funcionam pela dor, então teria que ter uma imposição de regras mais rígidas, com aplicações de multas, punições para quem não cumprir, além de expor mais a realidade para que as pessoas tenham consciência do perigo”. 

Estratégias

Apesar da fadiga, não é o momento de descuidar das medidas de prevenção. Sentir desconforto e cansaço é normal. Para enfrentar a exaustão, as especialistas sugerem:

  • Tenha paciência consigo mesmo e com o outro. Cuidado com os diálogos. É preciso investir na tolerância;
  • Encare a realidade com seriedade, sabendo que o corpo tem limites. Adoecer é um risco, mas é possível adotar uma série de medidas que minimizam os riscos;
  • Enfrente a realidade com seriedade, sem negar o risco que existe;
  • Tristeza, desânimo, cansaço, frustração, ansiedade, angustia, são sentimentos que surgem, podemos passar por eles e, acima de tudo, precisamos lidar com eles;
  • É importante acreditar que essa situação vai passar, as coisas vão melhorar. Se perguntas: O que eu posso fazer no meu dia a dia para trazer leveza, um pouco de conforto? Que medidas e que recursos eu posso buscar para encarar essa situação um pouco mais leve?
  • Se o sofrimento é muito grande e a pessoa não está encontrando, dentro do seu dia, momentos em que se sinta melhor, é necessário buscar a ajuda de um profissional.