O combate às notícias falsas, tema que ganhou ainda mais projeção após as eleições americanas, em novembro, ganhou proporções locais. Uma iniciativa que reúne acadêmicos, jornalistas e empresas de mídia do Brasil criaram o Projeto Credibilidade. Lançado oficialmente em dezembro do ano passado, o projeto é iniciativa do Projor em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Agência Lupa, Aos Fatos, Folha de S. Paulo, Jornal da Cidade, Jornal de Jundiaí, Nexo Jornal, Nova Escola, O Globo, O Estado de S. Paulo, UOL e Zero Hora.
O Credibilidade é inspirado no Trust Project, sediado no Centro Markkula de Ética Aplicada da Universidade Santa Clara, nos Estados Unidos. O principal objetivo é debater e refletir sobre notícias no mundo digital e, em uma segunda fase, criar ferramentas que certifiquem conteúdo confiável. A ideia nasceu em 2015, quando Angela Pimenta, presidente do Projor, participou de um congresso nos Estados Unidos sobre o Trust Project. O projeto também conta com a parceria do professor e pesquisador do programa de pós-graduação de Mídia e Tecnologia da Unesp, Francisco Belda.
A pesquisa Consumo de Notícias do Brasileiro, publicada em dezembro e realizada em parceria entre a Advice Comunicação Corporativa e a BonusQuest, apontou que em um universo de mil pessoas entrevistadas em todo o Brasil, 42% admitem já terem compartilhado notícia falsa nas redes sociais. O poder das mídias sociais digitais também foi evidenciado na pesquisa: 78% dos respondentes dizem utilizá-las para se informar. Apesar do grande uso, as mídias sociais possuem o menor índice de credibilidade entre as mídias. Apenas 6% dos usuários dizem confiar totalmente no que veem na rede, 26% confiam parcialmente e 11% desconfiam totalmente.
Para Marcelo Sant’Iago, sócio da consultoria MBreak, as notícias falsas encontram eco em um uma lógica de mercado na internet que se estabeleceu por remuneração baseada em cliques incentivando a criação de sites fakes. “Um fenômeno de nossos tempos e, em termos comerciais, boa parte da culpa deve-se à remuneração baseada em cliques, popularizada pelo Google e seus links patrocinados e o programa ad sense. A prática popularizou-se com o sucesso do BuzzFeed que, com suas listas e títulos tipo ‘você não vai acreditar’, atraem muitos cliques e gera dividendos. Daí para criar conteúdo falso para atrair visitas e cliques foi apenas um passo. Mas a dimensão que isso tomou, turbinado pelas redes sociais é enorme e aparentemente está fora de controle”, diz Sant’Iago.
Notícias falsas sempre existiram e circularam nos mais diferentes meios. A diferença agora é que o crescimento de plataformas digitais de distribuição de conteúdo deu mais força a essa proliferação e gera mais danos do que antes. Começaram a existir estratégias que se baseiam na distribuição de inverdades para atingir objetivos específicos”, diz André Zimmerman, sócio e CEO brasileiro da plataforma colaborativa de conteúdo Blasting News.
Fonte: Meio & Mensagem