Ampla pesquisa que levou em conta relatos orais de sobreviventes, até então não registrados, situa o nordeste como berço da instituição social rádio.
Por Germano Assad
A 43ª edição do Intercom (Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação), realizada virtualmente, durante a primeira semana de dezembro, expôs ao público uma nova perspectiva sobre o pioneirismo do meio rádio no Brasil.
Estudo apresentado pelo professor e pesquisador Luiz Artur Ferraretto reposiciona a Rádio Clube de Pernambuco como impulsionadora da radiodifusão sonora no país. “Demonstra que sua fundação institucionaliza um processo iniciado em meados da década de 1910 e que transforma experimentos de comunicação por ondas eletromagnéticas, o que possibilitou a passagem da radiotelefonia para o meio rádio”, diz o resumo da pesquisa.
Os entusiastas recifenses, à época, já possuíam conhecimento técnico e capacidade operacional similares aos congêneres baseados nos Estados Unidos, segundo o estudo. Bem antes da primeira transmissão, registrada oficialmente pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1º de maio de 1923. Ocorre que, segundo o professor Ferraretto, essa transmissão foi negociada por Roquete Pinto com as autoridades, já que ele era um grande intelectual e os convenceu de que não deveria ser considerada clandestina, já que traria um nível de experimentação importante.
“Todos os indícios existentes apontam, entretanto, que no início 1923 já havia pelo menos três sujeitos capazes de fazer transmissões em Recife e que provavelmente o fizeram, mas isto não está noticiado nos jornais, somente por relatos orais de sobreviventes, já que as transmissões eram proibidas pelo governo no contexto da época”.
O Rádio Clube de Pernambuco, fundado no dia 6 de abril de 1919, já havia realizado o que se tem registrado, portanto, extra-oficialmente, na “clandestinidade” da época.
Novo conceito
A expressão “radiocultura”, datada dos anos 1910, inspirou Ferraretto a defender o pioneirismo do meio como todo o processo de desenvolvimento do rádio como instituição social, considerando contexto histórico e muito outros elementos, ao invés do simplismo de um marco técnico, como “a primeira transmissão”.
Esta mudança de conceito, proposta em documento chamado carta de natal, debatida e elaborada por pesquisadores com lastro no tema, como Luiz Maranhão Filho e Pedro Vaz, durante evento da Alcar (Associação de Pesquisadores da História da Mídia) no Rio Grande do Norte – daí o nome da carta – mais do que oportunizar uma revisita a história do país e da mídia no Brasil, devolve o protagonismo deste capítulo a quem de direito.
Confira o estudo completo, em detalhes, clicando no botão abaixo: