Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná

Filarmônica Antoninense: 45 anos de histórias, música e amor

Por Juliana Sartori. Publicado em 05/06/2020 às 19:00. Atualizado em 09/06/2020 às 11:18.

“A música é o verbo do futuro”. A citação do célebre romancista francês, Victor Hugo, escrita ainda no século XIX, inundou corações de músicos pelos séculos. Músicos que sempre estiveram à frente do tempo.

A história da Filarmônica Antoninense está intimamente ligada ao nome de três músicos que viveram suas vidas, acreditando na relevância cultural e social da música. Roberto Cristiano Plassmann, Severino de Oliveira e Silva e José Carlos Couto construíram pouco a pouco, a história da instituição que já teve mais de 6 mil alunos em 45 anos de existência.

Mas a história da FA, como é carinhosamente chamada pelos seus alunos, não surgiu ao acaso. O atual presidente, Renan Gonçalves conta que a tradição das bandas de música em Antonina é muito mais antiga do que o tempo de existência da Filarmônica. “A tradição das bandas da cidade tem quase 150 anos. A primeira que se tem notícia é a Banda Antoninense, que surgiu em 1875”, conta. Segundo ele, existe inclusive um registro dela no diário de bordo de Dom Pedro II, quando aportou em Antonina (Terra de Guarapirocaba) em 1880, dizendo que ele foi saudado por um grupo de meninas e de senhoras e, também por uma banda de música que entoou o hino nacional.

De lá para cá, muitas bandas surgiram, tiveram o seu ápice, depois sucumbiram, mas essa tradição nunca morreu. “Até meados de 1975, havia a Banda de Antonina, que era a banda municipal da cidade, financiada e subsidiada pela prefeitura, mas ela acabou. Duas pessoas que faziam parte desta banda, que compreendiam o seu valor cultural e social, não aceitaram o fim e deram início ao que se tornaria o que hoje é a Filarmônica Antoninense. Estes homens eram Roberto Cristiano Plassmann, Severino de Oliveira e Silva”, conta Renan.       

A banda filarmônica começou desta maneira, quase como uma revolta perante o fim de uma tradição, que já era quase centenária. “Tudo começou com reuniões, ata, registraram todo o processo para se criar uma associação e assim surge a Filarmônica Antoninense. Os antigos instrumentos da antiga banda municipal foram utilizados nos primeiros ensaios com poucos alunos. Não havia local para ensaios, eles aconteciam com eles sentados em cima de pneus, na garagem do fundo da Prefeitura. Quando havia espaço para ensaiar dentro do prédio, eles utilizavam o segundo andar, mas sabiam que não poderiam ficar ali por muito tempo. Três anos depois, o Governo do Estado cedeu para a FA, em regime de comodato, um galpão de uma antiga fábrica de palmito, que já estava desativada. Este espaço é a sede da Filarmônica até hoje”, detalha o presidente da FA.

Na década de 1980, um carioca, chamado José Carlos Couto, que teve uma vida de muito sucesso musical, no Rio de Janeiro, um dos fundadores da banda Painel de Controle, que surge nos bailes cariocas junto com o grupo Roupa Nova, veio morar em Antonina porque estava cansado da vida atribulada de músico. Sabendo que ele estava na cidade, Roberto e Severino, visionários que eram, foram atrás dele para colher conhecimento e apresentar a banda. José Carlos se encantou e acabou se tornando um grande amigo da instituição.

“Após o falecimento de Severino, José Carlos assume o posto junto com o Roberto. Com ele vem uma nova fase para a Filarmônica com as aulas de teoria musical, reformas da parte estrutural com a construção de sala de teoria, cabines individuais de estudo. Foi neste momento que a Filarmônica deixou de ser a banda para se tornar efetivamente uma escola de música”, destaca Renan.

Graças a experiência que havia adquirido no Rio de Janeiro, José Carlos Couto começou a colocar várias ideias em prática e a vender apresentações da banda. No ano 2000, foi concretizada uma ideia antiga, a criação da Filarmônica Orquestra Show, um grupo em formato de big band. Enquanto, a Filarmônica Antoninense Banda faz as paradas cívicas, alvoradas, apresentações bem tradicionais de banda, a Orquestra Show tem a dança dos músicos, formação diferenciada, algo que facilita a venda para trazer recursos para a instituição.

Uma nova fase se inicia, após o falecimento do músico Roberto Plassmann, com a gestão de José Carlos Couto. “Em 2009, nasceu o projeto de musicalização infantil, que também foi um marco na instituição, afinal foi a primeira grande parceria com a Prefeitura Municipal. Ele foi evoluindo aos poucos, nos primeiros anos, eram poucos monitores dando aula de fanfarra, flauta doce e coral para crianças da rede púbica municipal de Antonina” relembra Renan. Os melhores alunos, no final de cada ano, ganhavam bolsa, financiada 60% pela prefeitura e 40% pela própria Filarmônica. Este projeto permitiu que a Filarmônica tivesse um número mínimo de matrículas de alunos por ano, além daqueles que poderiam pagar pelo curso. Pouco a pouco, o projeto foi evoluindo, hoje a FA conta com 130 alunos bolsistas, na musicalização infantil.

A nova fase da FA

Voltando a citação de Victor Hugo, no caso da Filarmônica Antoninense, a paixão pela música reverberou até os dias atuais. O atual presidente da instituição é o músico antoninense, Renan Gonçalves, que foi aluno da instituição, baixista da Orquestra Show, trompetista da Banda Sinfônica. Ele assumiu o posto com apenas 27 anos e a grande responsabilidade de representar e gerenciar uma instituição, na época com 40 anos de história. “Quando assumi percebi que os maiores problemas eram de ordem econômica, então desenvolvi vários projetos e conseguimos melhorar a musicalização, hoje temos 12 monitores. Os valores das bolsas da prefeitura passam para 75%, o que deu um respiro para a instituição, e conseguimos investir na sede e demais melhorias. Também passei a escrever a instituição em editais no âmbito municipal, estadual e federal”, relembra.

Em parceria com a Associação Musical Alegro, a Filarmônica iniciou sua participação via Lei de Incentivo Federal, Lei Rouanet. “Conseguimos nosso primeiro patrocinador em Paranaguá, a Cattalini Terminais Marítimos. Junto a isso, em 2018, surgiu a oportunidade da FA abrir um polo em Paranaguá, em uma região com condições mais precárias. De lá para cá, já demos um grande salto com o projeto, podendo equipar as sedes com cadeiras, pagar o honorário de alguns professores, algumas benfeitorias na estrutura, aquisição de ar-condicionado, mas muito ainda pode ser feito para melhorar e modernizar o atendimento às crianças” comemora Renan. Hoje, a Filarmônica Antoninense tem três segmentos de atuação: Banda Sinfônica, a Filarmônica Orquestra Show e o Coral. Além disto, a musicalização para as crianças.

O propósito da Filarmônica Antoninense permanece inalterado e é defendido com paixão pelo presidente da instituição. “Queremos proporcionar a educação musical para as crianças para que elas possam permanecer conosco por muito tempo. Desejo que elas tenham a mesma oportunidade que tive ou tantos outros profissionais tiveram, gerando oportunidade de emprego, acesso à arte e à cultura”.

Captação de recursos

Conhecendo a história da FA e compreendendo a importância de fomentar à cultura em nosso país, especialmente, no estado do Paraná, a Aerp (Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná) se tornou captadora de recursos do projeto elaborado pela Filarmônica Antoninense e já aprovado nos parâmetros da Lei de Incentivo à Cultura. “Para seu crescimento e ampliação das atividades culturais frente à sociedade, a Filarmônica ainda carece de recursos, a captação de recursos por meio da Renuncia Fiscal é uma oportunidade para as empresas fortalecerem suas marcas sem utilização dos recursos do marketing, sem contar que ela se apresenta de forma socialmente responsável e tendo conhecimento real da aplicação do recurso destinado”, defendeu o presidente da Aerp, Michel Micheleto.