Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná

Gigantes multinacionais boicotam o Facebook

Por Comunicação. Publicado em 03/07/2020 às 09:55.

Mais de 160 empresas, entre elas algumas das maiores anunciantes do mundo, como Coca-Cola, Unilever, Starbucks e Verizon, decidiram suspender a publicidade no Facebook em resposta à falta de compromisso da plataforma com o controle das informações tóxicas e do discurso de ódio, especialmente após o assassinato de George Floyd por policiais nos Estados Unidos. O movimento faz parte da campanha #StopHateForProfit (algo como “Pare de Dar Lucro ao Ódio”, em inglês). O boicote já causou prejuízo para a companhia – desde o dia 22 de junho, o valor de mercado caiu US$ 74,6 bilhões -, mas além disto, reforçou a preocupação com o papel que as redes sociais exercerão na atual campanha eleitoral dos Estados Unidos.

Enquanto o Facebook tenta lidar com a crise e mostrar à sociedade que se preocupa com a publicação de conteúdos ofensivos em suas plataformas, uma questão intriga: por que, só agora, as empresas estão boicotando o Facebook? “Até então, as manifestações sem ética e moral estavam isoladas, elas se tornaram públicas quando influenciaram as eleições nos Estados Unidos, Brasil, México, Colômbia”, explica o doutor em Gestão de Negócios e coordenador de Cursos de Pós Graduação da FAE Business School, Douglas Zela.

Ainda de acordo com Zela, na política de privacidade do Facebook está claro o papel da plataforma, que é promover a união de interesses em comum, a partir da navegação do usuário na rede. “Quando robôs criam perfis no Facebook, seguem determinadas pessoas e publicam conteúdos com frequência, as postagens ganham mais notoriedade, por isto, postagens de ódio começam a aparecer em maior quantidade para todos aqueles que, um dia, viram ou se interessaram por este conteúdo. O Facebook não tem o crivo de uma editoria de um veículo tradicional, que faz um filtro do que efetivamente pode ou não ser publicado. Com isto, as empresas que anunciam nesta rede, acabam tendo sua marca vinculada com esse tipo de publicação. Muitas estão ausentes do Facebook desde 2018”.

Segundo Fernando Morgado, professor, consultor, palestrante e escritor, a sociedade vive um gradual processo de amadurecimento da sua relação com a Internet. Para ele, diversos setores, de investidores a usuários, finalmente, começam a entender que a web é fantástica, mas não é perfeita. “A internet é um negócio como outro qualquer e, como tal, está submetida às leis e às demandas do mercado publicitário, que banca parte importante de suas atividades”

Morgado lembra que no rádio e na TV, por exemplo, é comum ver programas de grande popularidade, mas de gosto duvidoso, saírem do ar por falta de patrocínio. “Por que isso acontece? Porque as marcas não desejam se associar com conteúdos questionáveis. E por que tal raciocínio não poderia ser aplicado também à Internet? É muito bom ver agências e anunciantes assumindo suas responsabilidades e interrompendo, ainda que temporariamente, o financiamento de sites, incluindo redes sociais, que disseminam o ódio”.

A credibilidade e o alcance do rádio

Como as mídias essenciais podem se posicionar e demonstrar força, credibilidade e alcance neste momento em que as marcas estão avaliando o posicionamento dos veículos e os consumidores cobram um novo posicionamento das marcas?

“Não basta fazer, é preciso dizer que faz”, esclarece Morgado. “É fundamental que as emissoras sigam apostando na produção de conteúdo profissional e que essa aposta seja comunicada de forma exaustiva. Sempre que possível, deve ser destacado o volume de trabalho e de investimento realizado mesmo diante de todas as dificuldades impostas pela crise. Não podemos permitir que a sociedade perca de vista o papel de serviço público que a radiodifusão sempre exerceu, mas que se tornou ainda mais importante neste momento tão desafiador”.

Os veículos de comunicação devem continuar com o trabalho intenso contra as fake news, esclarece Douglas Zela. “Esse movimento de apuração tem que ser ininterrupto. O rádio tem que mostrar suas linhas editoriais são muito claras e evitar fake news, postagens irregulares, agressões e, principalmente, as coisas absurdas que acontecem no mundo ‘sem lei’ das redes sociais”.  Seguir neste caminho de excelência pode inclusive trazer oportunidades, pois as grandes empresas podem voltar a enxergar o rádio e a TV como canais adequados para a publicidade. “Uma parte da verba que estava sendo investida no Facebook será direcionada para outras mídias online como o Google e outras redes sociais, mas a mídia offline também pode ganhar parte do bolo, afinal a empresa vai precisar encontrar outros meios para se comunicar com seu público-alvo”, analisa.

Fotografia CC: Brian Solis