Em diferentes setores econômicos há uma previsão inicialmente sombria sobre o mercado de trabalho conforme a tecnologia evolui. E essa percepção teve mais um capítulo importante nos Estados Unidos: a gigante iHeartMedia, que conta com mais de 12.5 mil funcionários em mais de 800 estações de rádio, promoveu uma onda de demissões no mês passado. Ao justificar o movimento a empresa afirmou que está se modernizando, investindo em inteligência artificial para várias funções que hoje são desempenhadas por DJs, programadores e apresentadores.
O jornal norte-americano The Washington Post fez uma extensa reportagem sobre o tema, onde mais de mil funcionários foram desligados da iHeartMedia. Muitos deles são de rádios de praças de diferentes tamanhos, a maioria no interior do país, onde são tidos como personalidades famosas e influentes nessas localidades.
A iHeartRadio tem corrido para se posicionar como vanguarda no avanço tecnológico na área de áudio nos Estados Unidos. Wendy Goldberg, porta-voz da empresa, afirmou ao jornal que o grupo está se adaptando a uma nova realidade e, ao investir em inteligência artificial, está abrindo espaços para “empregos do futuro”, acrescentando “cientistas de dados, produtores de podcasts e outras equipes digitais” ao rádio.
“Não pretendemos ser uma dessas empresas que permaneceram no passado e o mundo passou por isso”, disse Goldberg ao The Washington Post. “Mudar é doloroso e difícil, mas escolher conscientemente não mudar não é uma opção para uma empresa que continuará crescendo e competindo”, completa.
Inteligência artificial no rádio?
Para o professor, consultor, palestrante e escritor nas áreas de marketing, inteligência de mercado e comunicação, Fernando Morgado, o rádio já possui boa parte da sua operação automatizada. A inteligência artificial, portanto, pode ser considerada uma evolução natural. Mas é preciso ter cautela e esclarecer a situação específica da iHeartMedia. “Trata-se de um grupo que esteve à beira da falência até pouco tempo. Ele contraiu muitas dívidas para expandir sua rede de emissoras. É natural, portanto, que busque reduzir fortemente suas despesas para, assim, gerar maiores resultados e recuperar sua credibilidade junto ao mercado. Isto posto, ainda é cedo afirmar que a Inteligência Artificial dominará a mídia global a curto ou médio prazo”.
Morgado destaca algumas iniciativas interessantes nas áreas de comercialização e produção de conteúdo. “A Globo, por exemplo, desenvolveu a Aida, uma apresentadora de telejornal baseada em inteligência artificial. Ela surgiu pouco tempo depois da agência chinesa Xinhua apresentar seus primeiros âncoras com IA”.
Inteligencia Artificial na iHeartRadio
Desde 2018, a empresa passou a adotar um sistema de Inteligência Artificial em suas estações digitais (presentes em plataformas de streaming da iHeartRadio). Ele realiza mixagem de músicas, capaz de “entender as nuances da música com a mesma profundidade que um DJ humano”. E a “apresentação de música computacional” auxilia na eliminação de intervalos de segundos entre as músicas que podem levar a “perda e/ou falta de energia”, “continuidade e esterilidade inquietante”.
O Super Hi-Fi, segundo o The Washington Post, pode “fazer a transição em tempo real entre as músicas, criando camadas de músicas, efeitos sonoros, trechos de dublagem e anúncios, oferecendo o estilo de reprodução suave e contínua como os DJs humanos”.
O sistema MagicStitch, nomeado pelo Super Hi-Fi, fica sediado em Los Angeles e é capaz de mixar músicas em um diagrama de tarefas algorítmicas, segundo a reportagem, avaliando o “perfil rítmico, cordal, melódico, harmônico e amplitude das músicas; calcula maneiras de combiná-los em concordância com os momentos temporais salientes”. Depois interpõe outros elementos para criar uma “experiência de consumo mais envolvente”.
O resultado: “uma música se encaixava perfeitamente na outra através de uma mistura automatizada de efeitos sonoros em expansão, música de fundo, entrevistas com trechos sonoros e mensagens de marca da estação”. E a eficiência do processo também esteve em destaque: “a transição suave pode levar alguns minutos para o DJ se preparar; o computador completou em questão de segundos, com 3.526 cálculos realizados”.
Porém, grande parte do treinamento do sistema para essas transições musicais e de conteúdo vem de profissionais humanos que gravam dublagens, selecionam músicas, editam clipes de áudio e classificam as músicas por gênero, estilo e humor. E o sistema tem sido aprimorado pelos DJs da iHeartMedia, que ajudaram nessa identificação de transições estranhas e promovem espaços para melhorias futuras.
Goldberg afirma, segundo o Post, que a iHeartMedia investiu centenas de milhões de dólares no desenvolvimento de sistemas de alta tecnologia para “melhorar substancialmente a parte científica de como programamos”, processando milhares de pontos de dados relacionados à seleção e programação otimizadas de músicas.
A empresa ainda se posiciona afirmando que esse movimento da iHeartMedia liberou pessoas de programação para atividades mais criativas, “incorporando nossas estações de rádio às comunidades e vidas de nossos ouvintes melhor e mais profundamente do que antes”.
Fonte: tudoradio.com e informações do The Washington Post