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Inteligência Relacional: como ela pode ajudar em momentos de turbulência?

Por Comunicação. Publicado em 02/04/2020 às 09:54. Atualizado em 04/04/2020 às 09:32.

Até o fim do século passado, a inteligência era tida como única habilidade. Mas, desde a década de 1980, outros tipos de inteligência começaram a ser estudados, entre as quais a inteligência relacional. Ao lado da inteligência emocional, musical, espacial e outros tipos, a inteligência relacional tem ganhado mais espaço, principalmente nos escritórios de todo o mundo, como uma competência social desejável em diversos perfis de profissionais.

Mas como ela pode nos ajudar em momentos de turbulência? Em entrevista exclusiva, Ana Artigas, neuropsicóloga, autora do Livro Inteligência Relacional, mestre em Inteligência Relacional aplicada às Organizações e criadora do Método CLASSE, fala sobre a melhor maneira de aperfeiçoarmos esta Inteligência, como utilizá-la no home office e também dá dicas práticas para os profissionais canalizarem as emoções de maneira apropriada durante a quarentena. Confira!

Aerp – A inteligência relacional diz respeito ao poder do relacionamento. Como aperfeiçoar essa habilidade?

Ana Artigas – Sim, é ela que nos conecta ao mundo por meio das pessoas. É uma habilidade que temos desde que nascemos, pois somos seres relacionais e as relações humanas são vitais para a nossa sobrevivência. Costumo dizer que somos “validados” pelo outro, ou seja, só crescemos porque um outro ser humano cuidou de nós e nos ensinou a falar, a comer, a andar, a tomar banho, etc.

Por isso, quando estamos em harmonia com as nossas relações, tudo fica melhor, mais leve, suave e alegre. Relacionamentos são as maiores causas de felicidade, mas também de tristeza. Nada pode ser pior do que os conflitos, brigas e desajustes nas relações pessoais e profissionais. Por isso, precisamos sair do analfabetismo relacional e dedicarmos um pouco mais de tempo para cuidarmos mais das pessoas ao nosso redor.

A melhor maneira de aperfeiçoarmos a inteligência Relacional é através do desenvolvimento das 6 Habilidades que defino como CLASSE. O termo não tem nada a ver com a maneira como nos vestimos, mas sim com a forma como devemos nos comportar quando estamos diante das pessoas. Porque relacionamentos exigem uma convivência harmônica, solidária, cuidadosa e atenciosa com os outros. Classe é formado pela consciência, liberdade, atração, segurança, sabedoria e empatia. Habilidades que podem ser aprimoradas sempre.

Aerp – Como utilizar a inteligência relacional no trabalho home office?

Ana Artigas – Três aspectos são importantes: comunicação clara, segurança e colaboração.

COMUNICAÇÃO CLARA – Mais do que nunca, agora é preciso que o líder mantenha muito respeito pelas pessoas. Conectando-se com os colaboradores por meio das ferramentas disponíveis para reuniões online.  Neste momento, é fundamental que o líder passe informações claras e verdadeiras para os seus liderados, nem que seja para dizer que ainda não sabe o que vai acontecer, o que não deixa de ser sinal de verdade e transparência. Porque de fato, ninguém sabe, sendo assim, não invente, não minta, seja verdadeiro e estimule que todos busquem ajuda juntos!

SEGURANÇA – ao ser claro e transparente, o líder passa mais segurança porque, mais do que nunca, as pessoas estão ansiosas e inseguras, com medo de perder o emprego, medo de não conseguir pagar suas contas, e nesta hora é crucial o papel da empresa pedindo que seus líderes escutem e acalmem seus liderados. O líder tem que fazer o seu papel, neste momento não pode ter medo de ser o alicerce para sua equipe.

COLABORAÇÃO – Os líderes estão em dúvida do que devem fazer para: supervisionar o que as pessoas estão fazendo, dizer como deve ser feito, como se comportar, se entram ou não em contato com seus clientes. A questão é, cada caso tem que ser tratado de forma individual, mas a hora é sim de renegociarmos. E o líder tem que acompanhar seus liderados por indicadores e por resultado. Estabeleçam metas, plano de ação, contrato de resultados em todas as áreas onde isso for possível.

Aerp – Muitos líderes não sabem o que fazer com as pessoas, não orientam e nem sempre conseguem se relacionar adequadamente. Como a inteligência relacional pode ajudar?

Ana Artigas – Em tempos normais já é difícil liderar e muitas pessoas realmente tem dificuldade de se comportar como líderes, mas agora, mais do que nunca é preciso respeito, tolerância e os passos que citamos acima.

O importante é acreditarmos que com o tempo as coisas vão se ajustar e é bem possível que o trabalho home office se fortaleça. As empresas vão começar a perceber que sai mais barato manter o home office do ter aquelas salas gigantes apinhadas de gente que poderia produzir mais e custar menos se estivessem em casa. E isso, sem dúvida, vai mudar a forma de liderar, porque agora se exige ainda mais confiança pelas pessoas e pelo trabalho do colaborador.

Como falamos, os seres humanos são relacionais e precisam do convívio, mas vamos deixar as reuniões presenciais para quando for realmente necessárias, seja para um treinamento, planejamento estratégico, reuniões de alinhamento ou integração. Com certeza todos nós aprenderemos muito com isso tudo. Nada como uma crise para que haja transformação, quebra e mudança de paradigmas.

Além disso, estávamos vivendo em uma sociedade excessivamente egoísta, onde as pessoas só pensavam nelas próprias e agora, mas do que nunca é hora de entendermos que se não colaborarmos uns com os outros, se não aprendermos o valor da ajuda, das renegociações e da solidariedade, a sociedade como um todo vai sucumbir. Sendo assim, agora é hora de mudarmos para melhor. Isso é a base da Inteligência Relacional.

Aerp – Estamos vivendo tempos difíceis com a quarentena e com a Covid-19. Que dicas práticas você pode dar para os profissionais canalizarem as emoções de maneira apropriada?

Ana Artigas – Por ser psicóloga, estudo o comportamento humano há muitos anos e junto com isso as melhores formas de nos mantermos em equilíbrio mesmo diante do caos. O fato é que as pessoas geralmente não param para pensar sobre isso e nunca sabem como se comportar diante de uma adversidade como a que vivemos, isso é normal. O que precisamos lembrar é que temos uma série de alternativas e na maioria das vezes a solução está dentro de nós mesmos.

A psicologia positiva e a ciência da felicidade estão trazendo práticas sensacionais sobre isso, como a meditação, o mindfulness (atenção plena), a gratidão, a apreciação e muitas outras que podem trazer mais paz e equilíbrio para cada um de nós.

 Além disso, acredito que agora é o momento para:

  • Colocar em prática aquele projeto que estava parado a um tempão;
  • Arrumar suas coisas, armários, livros, louças e doar tudo que puder para ajudar as pessoas que podem e estão precisando dessas coisas e que para você está sendo um excesso desnecessário;
  • Quem sabe agora é hora de você escrever um livro, ou sobre o assunto que domina, ou sobre sua própria história ou quem sabe até um romance ou ficção.

Enfim, é hora de se recriar e acreditar que isso logo passará e que sairemos juntos dessa e mais fortalecidos do que nunca.

Contatos da Ana Artigas: Instagram – inteligênciarelacional_oficial, Facebook: Ana Artigas, e-mail: [email protected]