Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná

Mulheres jornalistas sofrem mais ofensas no Twitter do que os homens

Por Comunicação. Publicado em 02/12/2021 às 15:08.

A análise destaca que, em sua maioria, os ataques contra jornalistas tentam deslegitimar a capacidade intelectual feminina para o exercício da profissão 

Por Fernanda Nardo, com informações do InternetLab


As profissionais de imprensa do país recebem mais do que o dobro de ofensas em seus perfis no Twitter do que colegas homens, essa foi a conclusão do  estudo realizado pelo InternetLab e pela Revista AzMina. Os dados do monitoramento são muito similares aos do relatório desenvolvido pela Abraji, que mostrou um índice de 56% de ataques online para mulheres jornalistas em 2020.

O estudo monitorou 200 perfis de jornalistas brasileiros no Twitter (133 mulheres e 67 homens) entre 1 de maio e 27 de setembro de 2021. Segundo a pesquisa, os profissionais que trabalham com cobertura política estão mais expostos aos ataques massivos. Enquanto 8% dos tuítes ofensivos direcionados para os jornalistas homens eram hostis, 17% dos direcionados às jornalistas mulheres eram ataques.

O trabalho destaca que entre os termos mais usados contra elas estão “ridícula”, “canalha”, “louca”, “mulherzinha”. A maioria das agressões também sugerem que as mulheres são incapazes de interpretar um texto ou cenário político.  Em muitos casos as ofensas também miram em aspectos físicos das profissionais, fugindo dos temas abordados em suas reportagens e pontos de vista. As mulheres também sofrem ofensas que são direcionadas aos seus corpos, seus relacionamentos e também suas idades. 

“Os ataques às mulheres demonstram esse componente mais pessoal, e também trazem informações falsas sobre essas mulheres”. Neste caso, a jornalista Miriam Leitão é um ótimo exemplo. Ela já foi parar no twitter com fotos insinuando que já tinha sido presa por atacar um banco. Ela já disse que isso nunca aconteceu, que nunca pegou numa arma, mas isso continua sendo propagado nas redes sociais. Isso é uma estratégia de descredibilização dessas profissionais.”, 

No caso das jornalistas negras e indígenas, a pesquisa revelou que existe um questionamento sobre a atuação dessas mulheres na profissão. “Como se elas usassem o fato de serem negras e indígenas para sustentar o que está sendo falado e colocado por elas, como se isso fosse uma estratégia maquiavélica utilizada pelas profisisonais”, diz Fernanda.   

Segundo o trabalho, no caso dos homens, a incidência de ataques diretos é menor. “Muitas vezes, as várias mensagens direcionadas aos homens também continham comentários misóginos ofendendo outras figuras femininas relacionadas a eles, como mãe, irmã e colegas de profissão”, destaca.

Quando a gente compara os ataques aos jornalistas homens e mulheres, principalmente em relação à política, Fernanda destaca que, em sua maioria, os ataques contra as jornalistas tentam deslegitimar a capacidade intelectual feminina para o exercício da profissão e silenciar a imprensa.

Ranking de jornalistas mais atacadas no twitter 

De acordo com a pesquisa, no topo do ranking das jornalistas estão Eliane Cantanhêde, colunista do Estadão; Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, colunista no jornal O Globo e comentarista na  rádio CBN; Daniela Lima, apresentadora da CNN; e Miriam Leitão, jornalista de O Globo, TV Globo, Globonews e CBN.

Combate – O Twitter possui política de comportamento abusivo e política contra propagação de ódio. Segundo a rede social, quanto aos perfis falsos, a nota da plataforma destaca o uso de novas tecnologias, como aprendizado de máquina, e o treinamento da equipe para identificar esses perfis. 

“Por mais que as plataformas tenham em seus termos de uso, o combate ao discurso de ódio ainda é falho e depende da denúncia por parte das jornalistas. Muitas vezes, o uso de inteligência artificial para fazer a moderação automatizada, de inúmeros comentários ofensivos, se torna quase inviável. Por isso, é muito importante esse olhar humano também, acho que essa é uma cobrança que deve ser feita às plataformas, por maior transparência, dados específicos de cada local”, ressalta a antropóloga.