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O “tsunami” de problemas de saúde mental em meio à pandemia

Por Comunicação. Publicado em 09/07/2020 às 10:51.

Uma recente pesquisa realizada pelo Colégio Real de Psiquiatras, feita com 1.300 médicos de saúde mental de todo o Reino Unido, constatou que 43% haviam visto um aumento em casos urgentes, enquanto 45% relataram uma redução nas consultas de rotina.

A psicoterapeuta Pollyanna Esteves tem observado o impacto da covid-19 na saúde mental, com mais pessoas em crise. “Estudos comprovam que a depressão dobrou e a ansiedade e as crises de pânico cresceram 80%. A incerteza com o futuro e o medo da crise, além da adaptação a uma nova rotina, está mexendo muito profundamente com o emocional das pessoas e causando problemas sérios”.

O “tsunami” de problemas psicológicos já avançava e aumentava muito antes da pandemia, de acordo com Luccas Cechetto, psicólogo Analista do Comportamento e presidente da Comissão de Ética do CRP-PR (Conselho Regional de Psicologia do Paraná). “A pandemia deixou mais evidentes problemas que já existiam e são bem graves. Ela acelerou, de fato, essa deterioração que a gente vem vivenciando, ao longo dos últimos anos, nos tecidos sociais juntamente com a crise política, ambiental, econômica”.

Quando procurar ajuda?

As pessoas que não estão se sentindo bem devem procurar ajuda. Pollyanna Esteves alerta que o primeiro passo é reconhecer que precisa de apoio. “Quem não está bem deve parar de querer ser forte, de achar que dá conta de tudo. Converse com um amigo, compartilhe suas dores, seus medos, procure profissionais que possam te ajudar e se cerque de coisas e pessoas que te façam bem”.

Segundo Luccas Cechetto, a busca pela terapia ou qualquer serviço de apoio psicológico deve ocorrer sempre que a pessoa estiver buscando uma atenção profissional, técnica e humanizada para qualquer que seja o problema ou situação que estiver lhe provocando sofrimento. “Entender a terapia como prevenção e não só como emergência é um ponto importante para saber quando procurar ajuda”.

No trabalho ou na família é possível identificar quem está em sofrimento. Luccas explica que o mais importante é não isolar o indivíduo ou o sintoma. “Se observar que a pessoa está desanimada, com maior irritabilidade e dificuldade em manter a atenção, isso não deve servir apenas como um disparador de encaminhamento para ajuda”.

Ele esclarece ainda que os sintomas devem ser colocados em perspectiva relacional, não individual. “Que coisas podem estar acontecendo no ambiente em que essa pessoa está, que poderiam estar contribuindo para isso? Como é o padrão de comunicação sobre sofrimento nesse espaço? Quão seguro é o ambiente para que a pessoa possa se expressar e buscar alternativas? O ser humano, suas alegrias e tristezas, não se constroem a partir de uma essência ou de alguma dimensão interna. É sempre na relação que se encontrarão as perguntas e as respostas. E é sempre em relação que se construirão as perguntas e as respostas”.

No Brasil, o atendimento psicológico continua funcionando e pode inclusive ser feito à distância, por meio de plataformas de videochamada. “Existem casos que precisam e devem ter o atendimento mantido, estes serão considerados serviços essenciais e irão receber o mesmo tratamento”, explica o presidente da Comissão de Ética do CRP-PR.

A Prefeitura de Curitiba também tem um serviço de escuta e acolhimento chamado “TelePaz”, que pode ser feito pelo telefone (41) 3350-8500. O Conselho Regional de Psicologia do Paraná alerta que não se trata de um atendimento psicoterápico, mas sim uma escuta pontual e encaminhamento para a rede, em caso de emergência.