Segundo reportagem do portal Inside Radio, há um espírito colaborativo natural entre o rádio e as montadoras, estas que em grande parte continuam disponibilizando o rádio AM / FM em seus sistemas, apesar do surgimento de mais funções no multimídia dos automóveis. Porém, há uma necessidade de tornar essa relação e trabalho mais pró-ativos, já que o interesse no rádio pelas montadoras e pelo próprio público consumidor segue alto.
David Layer, vice-presidente de engenharia avançada da NAB, trabalha em conjunto com um grupo de consultores que inclui o presidente da Jacobs Media, Fred Jacobs, juntamente com John Ellis, ex-chefe do Programa de Desenvolvimento da Ford. Layer e sua equipe se tornaram regulares nos grandes shows e conferências de automóveis e participaram de hackatonas com a Ford, a General Motors e a Honda para desenvolver novos aplicativos automotivos que aprimoram a experiência de rádio no carro. Houve uma resposta recíproca das montadoras, que se juntaram à NAB na CES deste ano em Las Vegas e na NAB Show 2018 em Las Vegas.
“O rádio continua dominando a escuta dos consumidores nos EUA, com nove entre dez americanos ouvindo. Eu não falei com um [fabricante de automóveis] que discordaria do poder de nossas estações de rádio e como nos conectamos com o público. Os consumidores adoram aplicativos e eles os amam em seus carros – mas além de rádio AM / FM, não em vez disso”, afirma Michele Laven, presidente do Strategic Partnerships Group, iHeartMedia.
Em entrevista ao Inside Radio, Laven aponta para um estudo recente da Ipsos (nos Estados Unidos) que mostra que 98% dos consumidores estão satisfeitos com o rádio AM / FM e apenas 4% dos consumidores preferem um aplicativo de áudio embutido no painel do carro para AM / FM. Outra descoberta do estudo: 86% dizem que querem um rádio AM / FM com a próxima compra de carro novo. Isso tem chamado a atenção das montadoras, mas todo o setor aponta a necessidade do rádio estar preparado para isso.
Concorrência na aparência e nas funções
Uma das formas de preparo é o “rádio parecer tão bom como parece”. Como? O radiodifusor precisa cuidar da “aparência do rádio”, aproveitando os recursos disponibilizados pelos novos receptores que estão na maioria dos veículos.
David Layer afirma que, além de garantir que a aparência da tela digital do rádio no carro seja consistente com seus concorrentes de streaming e rádio via satélite, a indústria e a NAB estão trabalhando para evoluir e inovar a experiência de rádio no carro. Atualmente, esses esforços estão focados no que é conhecido como rádio híbrido, que combina a eficiência e a cobertura da transmissão pelo ar com conteúdo transmitido por IP para uma experiência mais rica e interativa.
Layer destaca o novo Audi A8 como um exemplo de como a implementação de rádio híbrido pode se desenvolver. O modelo “top de linha” é o primeiro a desenvolver um sistema que atualmente está disponível apenas na Europa, mas que foi exibido no estande da Radio DNS no NAB Show no mês passado em Las Vegas. Totalmente ativado por tela de toque, ele inclui um guia de escuta ao vivo com reconhecimento de local que é suportado pela tecnologia de banda larga móvel híbrida. O rádio A8 usa uma tecnologia conhecida como “next service”, o que significa que ele prefere o sinal digital over-the-air, mas mudará para uma versão FM analógica do sinal se a transmissão digital não estiver disponível. E quando FM não pode ser recebido, ele alterna para uma versão de áudio streaming da estação.
O relatório ainda ponta que um obstáculo para tornar o rádio híbrido uma realidade é fazer com que os fabricantes de automóveis adotem uma plataforma padronizada. Para obter isso, a NAB está trabalhando com a GENIVI Alliance, que colabora com empresas de hardware e software para desenvolver plataformas de código aberto para os fabricantes de automóveis usarem em seus sistemas de infotainment. Como parte de seu programa piloto, o NAB está trabalhando com o consórcio para incorporar recursos de rádios híbridos em suas plataformas. Layer diz: “Se as montadoras tiverem uma plataforma padrão para trabalhar, será mais fácil e rápido colocar essas tecnologias no maior número de veículos possível”.
Alertas
A matéria do Inside Radio destaca que ainda há preocupações fundamentais para o setor de rádio. À medida que as montadoras integram a Apple CarPlay e o Android Auto em suas frotas, o smartphone pode se tornar o centro de entretenimento do automóvel e diminuir a posição do rádio no carro para uma segunda ou terceira tela. Porém esse panorama parece ser menos provável com base no comportamento da audiência (voltando à pesquisa da Ipsos, que aponta que 86% querem o rádio AM/FM em seu próximo carro) e também com base no trabalho que a NAB vem fazendo em Detroit (sede das montadoras) e em outros lugares para fortalecer o relacionamento da rádio com as principais marcas de automóveis e seus fornecedores de tecnologia.
Jacobs ressalta: “A melhor notícia é que a indústria do rádio despertou para o desafio do automóvel em muitos aspectos. A NAB tem sido muito agressiva ao longo do último ano para permitir que a indústria automobilística saiba que o rádio é sério e para trabalhar em parcerias que possam ajudar os dois lados. O ano de 2017 foi um jogo completamente diferente do que vimos antes. É muito gratificante”, afirma o executivo à Inside Radio
No Brasil
A oferta de multimídias mais “apurados”, com mais funções aos usuários, tem ampliado nas montadoras com atuação no Brasil e, muitos dos modelos comercializados em países como os Estados Unidos, também contam com atuação por aqui. Porém os novos rádios dos automóveis estão mais amigáveis com o rádio, como melhor qualidade de som e sintonia de estações (mesmo em locais onde o espectro FM está muito sobrecarregado), total integração com funções RDS, possibilidade de integração com os logotipos das rádios (modelos básicos e avançados de veículos da Volkswagen contam com essa opção, mas que ainda fica a cargo da personalização do usuário), entre outras funções.
Há a preocupação da adaptação da banda FM estendida (a partir de 76 MHz) nesses veículos, situação técnica que não é difícil de resolver (pois envolve mais uma questão de disponibilidade do software do que uma capacidade dos receptores em cobrir essas faixas, ou seja, atualizações podem resolver a situação). O que atrapalha é a imprevisibilidade da adoção do sistema pelo mercado, ou seja, quando a canalização do FM estendido será feita pelas agências envolvidas no processo de migração AM-FM. A previsão inicial é de que essa canalização aconteça a partir do segundo semestre deste ano.
Fonte: Tudo Rádio