Como será o mundo pós-coronavírus? Que lições teremos aprendido? Como passaremos a lidar com aspectos do cotidiano, como as relações de afeto, o mercado de consumo? Ninguém tem ainda essas respostas. Mas, uma coisa é certa: o mundo não será como antes, conforme alerta o biólogo Átila Iamarino.
“O mundo mudou, e aquele mundo (de antes do coronavírus) não existe mais. A nossa vida vai mudar muito daqui para a frente, e alguém que tenta manter o status quo de 2019 é alguém que ainda não aceitou essa nova realidade”, disse Átila em uma entrevista para a BBC Brasil.
Doutor em microbiologia pela Universidade de São Paulo e pós-doutor pela Universidade Yale, Átila explica que as mudanças que o mundo levaria décadas para passar, que a gente levaria muito tempo para executar voluntariamente, estamos implementando no susto, em questão de meses.
Consumo
Com a pandemia, os consumidores estão adotando novos hábitos e comportamentos. Essas mudanças terão implicações duradouras para as marcas? Para o consultor de marca, Juliano Ughini, é preciso atenção ao novo consumidor. “As marcas que já atuam de forma transparente, que estão dispostas a ouvir e manter relacionamentos, precisarão intensificar este modelo de atuação, provavelmente por meio de novos canais e interfaces capazes de atender um consumidor cada vez mais atuante, presente”.
Segundo Juliano, o consumidor está se tornando um auditor. “Muitas marcas têm adotado uma posição de empatia, parceria e comprometimento com a causa. O consumidor se lembrará disso e, consequentemente, fará mais cobranças. O que, na prática, está sendo feito HOJE e como isso impactará o FUTURO? Teremos um ‘consumidor-auditor’”.
Gestão da marca
Não é hora de ficar em silêncio ou inativo como uma marca. Segundo uma pesquisa da Federação Mundial de Anunciantes, 80% das multinacionais estão adiando campanhas, mas o mesmo número está criando novo conteúdo em resposta à crise.
Ter transparência e ouvir o cliente são atitudes essenciais. Juliano esclarece que é importante pensar em atuar por meio de um propósito verdadeiro, capaz de fazer uma diferença REAL na vida das pessoas. “Mais do que vender produtos e serviços, o foco deve estar em estreitar relacionamentos”, afirmou.
Mas como pensar em uma estratégia de branding para o período pós-covid-19? O consultor explica que os objetivos de marca devem ser repensados. “Cabe um momento de reflexão para as marcas e uma revisão geral das estratégias. Minha sugestão é que, pensando ainda em 2020, se faça uma revisão dos planos táticos. Por exemplo, ao invés de pensar apenas em retomada de vendas, procurar entender como o SEU PÚBLICO mudou”.
Tendências
Elencamos as tendências dos últimos anos, apontadas pelo relatório “A POST-CORONA WORLD – 10 emerging consumer trends that have been radically accelerated by the crisis” (em uma tradução livre “O mundo pós-Corona – 10 tendências de consumo que foram radicalmente impulsionadas pela crise”):
- Virtualização geral com o crescimento das experiências;
- Relações mais virtuais – shows, museus, viagens e reuniões;
- Fusão de e-commerce e transmissão ao vivo (streaming);
- Automatização de processos (relação homem/robô e IA);
- Crescimento dos bens virtuais como símbolos de status;
- Preocupação em estar em ambientes saudáveis;
- Autoaperfeiçoamento por meio de cursos e contatos online com especialistas e mentores;
- Necessidade de desenvolver habilidades domésticas, por anos negligenciadas;
- Demanda por suporte e ajuda constante para melhora do bem-estar mental;
- Sustentabilidade por meio do compartilhamento de soluções open source (os programas open source promovem a colaboração e o compartilhamento de dados entre os usuários por permitirem que outras pessoas façam modificações no código fonte e incorporem essas alterações em seus próprios projetos).